terça-feira, 12 de julho de 2011



12 de julho de 2011 | N° 16757
DAVID COIMBRA


A vida devia ser matemática

Ogrande problema das ciências humanas é que elas não são exatas. A matemática, por exemplo, é muito reconfortante com suas certezas inalteráveis. Você analisa uma equação qualquer, digamos a clássica 2+2, e sabe que seu resultado será sempre o mesmo.

No caso, 4. É tão bom isso. É tão seguro, tão reto, tão dignamente previsível. Se tudo fosse assim, matemático, a vida estaria resolvida. Os psicanalistas e os advogados estariam todos desempregados; não haveria guerra ou quizílias invencíveis. Se bem que, há que se admitir, não haveria o que é chamado de a Grande Arte.

As pessoas sabem disso. Então, empenham-se para transformar as variantes da existência em fórmulas científicas. Donde a existência das tais “ciências humanas”. Repare no esforço que as ciências humanas fazem para merecer justamente essa denominação: ciências.

A História, o Direito, a Linguística, a Psicologia e tantas outras ditas ciências estão sempre criando regras e estabelecendo padrões. Mas, de repente, novas descobertas ou simples mudanças de comportamento esgarçam essas regras e derrubam os padrões. Aí, tudo aquilo que era certeza se esfumaça. E lá vêm novas regras, novos padrões.

Por que isso?

Porque as ciências humanas são interpretativas. Ou seja: não são demonstrativas, dependem das deduções dos cientistas acerca de suas descobertas. O que me faz suspeitar que não sejam exatamente ciências.

Pegue a História. Agora mesmo, enquanto seu olhar passa por entre as pernas abertas do a maiúsculo de “Agora”, cientistas estão focinhando nas ruínas do que eles acreditam ser a mais antiga construção da história humana. Para eles, esse descobrimento é uma revolução, algo que está mudando seus conceitos e suas crenças, e que vai reescrever os livros de História.

Trata-se de uma estrutura de pilares e esculturas parecida com a inglesa Stonehenge, só que fica na Turquia e tem mais de 11.500 anos de idade. Só para se ter ideia do isso significa, lembre-se que a Grande Pirâmide de Quéops tem 4.500 anos.

Os arqueólogos estão espantados com essa descoberta por várias razões, além da sua antiguidade. A principal é que se trata de uma estrutura erguida com fins provavelmente religiosos, situada distante de qualquer veio d’água. Quer dizer: as pessoas não moravam lá, mas para lá iam a fim de realizar alguma cerimônia, alguma comemoração, o que quer que fosse.

O que os cientistas concluíram a partir dessas informações? Que o motor da Civilização talvez não tenha sido a agricultura. Que talvez o homo sapiens tenha se civilizado por motivos religiosos.

Ora, isso é tão-somente interpretação. É apenas o que os arqueólogos deduzem que aconteceu. Eu poderia contra-argumentar que o homo sapiens sempre teve condições de deflagrar a Civilização, e que não o fez antes de 10 ou 12 mil anos por comodidade. Que a Civilização, na verdade, não foi uma evolução.

Ao contrário, o homem complicou sua existência sobre a Terra. Mas que a Civilização, uma vez deflagrada, é irresistível. O homem, depois que se fixou em um só lugar e deixou de ser nômade, não pôde mais voltar atrás. Não pode. Isso foi terrível. Foi o começo de todo o drama humano debaixo do sol.

Ou seja: tomei as mesmas informações dos cientistas e cheguei à outra conclusão. Você poderá argumentar que os cientistas é que têm razão porque, afinal, eles é que são cientistas, mas não se admire se surgir por aí um cientista que concorde comigo. Como já disse, as ciências humanas não são exatas. Elas são cambiantes. Suas certezas mudam o tempo todo.

O futebol, se fosse uma ciência, seria humana. O atletismo e a natação seriam exatas. Há muitas variantes no futebol que independem do treino, da repetição e do conjunto de talentos do atleta.

Às vezes, um time ganha porque começou a ganhar. Uma vitória leva a outra, sem que haja uma ação consciente para que se chegue a tal resultado. Mas, depois de uma conquista, os analistas se esforçam para tornar tudo premeditado. É uma necessidade humana ver razões intelectuais em tudo o que é feito. Como na História, as causas muitas vezes surgem depois das consequências.

Até agora, não vejo nenhuma ação consciente no Grêmio ou no Inter para que o sucesso seja alcançado. Vejo tudo muito casual, tudo acontecendo ao sabor dos acontecimentos. Trocas de técnicos, contratações, mudanças de rumo, nada foi realmente planejado na Dupla Gre-Nal em 2011.

Se as vitórias vierem será porque vieram, não por que se sabia como buscá-las. Mas, se vierem, parecerá tudo muito calculado, tudo muito pensado, tudo muito intencional. Tudo exato, quando terá sido apenas humano.

Nenhum comentário: