quinta-feira, 28 de julho de 2011



28 de julho de 2011 | N° 16775
EDITORIAIS


A REAÇÃO À CRISE

Até hoje criticado pela demora em se dar conta do impacto da crise de 2008, o Ministério da Fazenda age bem ao demonstrar que, desta vez, não está paralisado diante das consequências inevitáveis da agonia de algumas economias importantes da União Europeia e da possibilidade de moratória na dívida norte-americana. Desta vez, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, agiu rápido, preocupado em evitar a continuidade da excessiva especulação com o dólar.

Os primeiros resultados das decisões tomadas – entre as quais maior taxação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) dos chamados derivativos cambiais, que influem na formação dos preços da moeda norte-americana – foram registrados ontem mesmo: depois de vários dias de queda em relação ao real, o dólar voltou a subir. Esse é apenas o começo da reação oficial, mas o Planalto, pelo menos, demonstra estar atento aos riscos da inação e do impacto inevitável para os brasileiros.

O anúncio das medidas cambiais e a expressiva alta do dólar coincidem com a confirmação, pela Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento e Comércio (Unctad, na sigla em inglês), de que o Brasil passou da 15ª para a quinta posição entre os maiores destinos de investimento direto no mundo. Ficou atrás apenas de Estados Unidos, China, Hong Kong e Bélgica.

Esses investimentos são diretos, destinados ao setor produtivo, mas não é impossível que pelo menos parte dos recursos transite algum tempo pelo mercado financeiro, aproveitando a taxação menor.

O que precisa preocupar os responsáveis pelo gerenciamento da política econômica, porém, são os recursos resultantes da liquidez internacional que ingressam no país atraídos pelos ganhos imediatos propiciados pelas taxas de juros recordes e pela pujança da economia brasileira.

Em entrevista concedida ontem, quando as novas medidas entraram em vigor, o ministro da Fazenda garantiu que o Brasil dispõe de um “arsenal” maior para usar na questão cambial. É importante que saiba usá-lo também na dose e no momento adequados, procurando atenuar não apenas os efeitos perversos da irrealidade cambial no mercado interno como também a especulação, que torna a economia excessivamente suscetível num momento de mais incertezas.

O país precisa agir a tempo de reduzir a vulnerabilidade de sua economia e proteger o setor produtivo, particularmente num momento de maior tensão devido à crise da dívida norte-americana e de nações da União Europeia. É difícil imaginar que, confirmadas as previsões mais pessimistas no cenário externo, o país possa sair ileso.

O que o Brasil precisa é reforçar continuamente os pilares de sua estabilidade econômica. Não há melhor forma de garantir condições adequadas a quem produz tanto para o mercado interno quanto para o externo, assegurando a continuidade da expansão da economia, mesmo num cenário internacional adverso.

Nenhum comentário: