Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sexta-feira, 15 de julho de 2011
15 de julho de 2011 | N° 16761
DAVID COIMBRA
Quando os homens eram felizes
O grupo sempre é opressivo.
Não fui eu quem disse, quem disse foi o Pondé, que essa semana gerou trepidações filosóficas no Fronteiras do Pensamento. Mas eu disse também, e até escrevi numa crônica publicada aqui mesmo, neste espaço, sextas atrás. “Eu não tenho turma”, o título da coluna. Falei, na crônica, exatamente o que tem falado o Pondé: que os grupos são opressores, autoritários e intolerantes.
Quase todos os grupos, de protetores dos animais a mórmons, de vegetarianos militantes a liberais de fórum. Chamei-os de malas e proclamei minha independência intelectual. Note, esclarecido leitor: não preguei contra a religião ou a defesa dos animais, não brandi o verbo contra as ações ou os objetivos de quaisquer grupos; gritei contra a opressão protagonizada por eles, por sua vigilância inflexível, por sua ânsia de cooptação. E vários desses grupos, em sua reação ao que escrevi, provaram como estou certo.
Muitos me atacaram e ofenderam, atitude usual de parcela dos leitores da era da internet. Alguns me ameaçaram, o que é menos comum, mas possível de acontecer. E houve até movimentos para pedir minha demissão. Os caras queriam me demitir! Porque os chamei de malas! Será que eles não pensam no mamá com Nescau de todas as manhãs do Bernardo? São mesmo opressores, autoritários e intolerantes. Em resumo: malas.
Mas compreendo a necessidade de adesão que sentem as pessoas. Quando elas se reúnem em prol de alguma causa, elas estão dando sentido à sua existência. Então é preciso encontrar uma causa de profundidade nesse tempo de causas ralas. Mas como é difícil combater o bom combate.
Felizes foram os cristãos pioneiros que eram crestados em grelhas ou pregados em cruzes devido a sua crença, felizes foram os 300 espartanos de Leônidas que morreram trucidados pelos persas ao defender sua cidade e sua democracia, felizes foram Martin Luther King, Gandhi, Jesus, Sócrates e todos os homens que caíram assassinados na defesa de seu pensamento.
Espinosa foi excomungado do judaísmo devido a sua filosofia, Galileu foi perseguido pela Inquisição devido a sua ciência, Che Guevara foi metralhado devido aos seus ideais. Homens felizes. Se suas causas eram certas ou erradas, isso não interessa. O que interessa é que eram grandes causas pelas quais valia a pena morrer.
Hoje as pessoas têm de se realizar tirando gatinhos das ruas, andando de bicicleta ou reciclando lixo. Não existe mais ditadura a se combater – a democracia, no Brasil, está monotonamente consolidada. O capitalismo e o socialismo se mesclaram numa geleca só, aplicada no mais improvável dos lugares, a China, economicamente capitalista e politicamente comunista. O cristianismo, o judaísmo e o budismo são religiões cada vez mais racionais e menos sacras.
O racismo, o machismo, a homofobia e as discriminações em geral são amplamente condenados. Maldição! Onde estão os vilões? Cadê as injustiças flagrantes? Em que escaninho se meteu o Mal com eme maiúsculo? É impossível ser mártir hoje em dia. Temos que encontrar o quanto antes motivos para morrer. Ou será cada vez mais difícil achar motivos pelos quais viver.
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