Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
quinta-feira, 14 de julho de 2011
14 de julho de 2011 | N° 16760
L. F. VERISSIMO
Chafurdando
Diziam que o maior exemplo de autoconfiança intelectual do mundo era fazer as palavras cruzadas do “Times” de Londres com caneta. O que, indiretamente, provava o alto conceito que o “Times” tinha dos seus leitores, a elite inteligente da Inglaterra. Isso no tempo em que o “Times” era o “Times” e, além de palavras cruzadas para suas melhores mentes, o império encontrava no jornal, numa linguagem sóbria e elegante, tudo o que precisava saber a seu próprio respeito e a respeito dos seus inferiores, o resto do mundo. Quer dizer, no tempo pré-Murdoch.
Lembrei das palavras cruzadas do “Times” porque li que não adiantaram os cuidados tomados para que não saísse nada de malcriado ou subversivo na ultima edição do jornal “News of the World”, fechado pelo Murdoch em meio ao escândalo dos grampos e da fofocagem, com a demissão de mais de duzentos jornalistas. O medo era que alguém na redação ou na oficina conseguisse inserir na edição histórica alguma crítica ou gozação a Murdoch ou à ex-editora do “News”, Rebekah Brooks.
A censura prévia foi feita e o jornal saiu – mas esqueceram de checar as palavras cruzadas, onde os dois foram sutilmente espinafrados (no espaço para um sinônimo de “Bruxa”, imagino, a palavra certa era “Rebekah”), tornando o último número ainda mais histórico.
O contraste entre os tabloides sensacionalistas e os jornais “respeitáveis” da Inglaterra é uma evidência, pode-se dizer escandalosa, de uma divisão social como talvez só exista igual na Índia das castas milenares. A elite inglesa hierarquiza seus diferentes graus de importância para que nunca se confunda um nobre, mesmo arruinado, com um rico sem título, ou os dois com um “comum”.
Essa demarcação rígida dá uma certa liberdade aos excluídos para, por assim dizer, chafurdarem (grande palavra) na sua condição de casta inferior. Já que nunca ultrapassarão a barreira que os separa da elite, enfatizam o contraste e atacam o que a elite tem de mais seu, que é o bom gosto e a hipocrisia. Os tabloides são armas na mal disfarçada luta de classes que tem sido a história da Inglaterra desde os primeiros barões.
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