terça-feira, 26 de julho de 2011



26 de julho de 2011 | N° 16773
DAVID COIMBRA


Para que serve o passado

Nos anos 60, os Mandarins eram jovens e, como jovens, se reuniam nos bares da cidade, varavam as madrugadas lubrificando os neurônios com álcool, alimentando os olhos com a visão das pernas de louça das moças e tramando, que jovens tramam. Os esquemas de muitos de seus planos foram traçados em guardanapos de papel manchados da gordura dos bolinhos de bacalhau e da espuma dos chopes.

Os Mandarins formavam um grupo de novos dirigentes do Inter. Graças a eles, o clube montaria o melhor time da sua história, nos anos 70. Certo. E o que os Mandarins fizeram de diferente?

Nada.

Os Mandarins aprenderam com os erros do passado, do seu passado, e com os acertos do passado do inimigo. No caso, o Grêmio. Havia década e meia que o Grêmio era hegemônico no Estado devido a um estilo implantado por Oswaldo Rolla, o Foguinho, nos anos 50.

Foguinho instituiu o futebol de marcação, de preenchimento de espaços, o futebol de solidariedade, de valorização do coletivo. Foguinho foi o primeiro treinador a priorizar a preparação física no Rio Grande do Sul, o primeiro a pregar que um jogador tinha de ser útil para todos, não só para ele próprio.

Os Mandarins se debruçaram sobre a experiência vitoriosa do Grêmio, examinaram-na às minúcias, teorizaram a respeito e estabeleceram uma fórmula: os jogadores do novo Inter teriam de possuir duas de três qualidades: técnica, força e velocidade. Assim, um jogador poderia ser técnico e forte, sem ser veloz; ou veloz e forte, sem ser técnico; ou veloz e técnico, sem ser forte; mas jamais poderia ser só técnico, só forte ou só veloz, por mais forte, técnico ou veloz que fosse.

Naquele Inter, Pontes, Cláudio, Vacaria, Caçapava, Dario e Valdomiro eram velozes e fortes, sem ser exatamente técnicos; Figueroa era forte e técnico, sem ser veloz; Lula e Carpegiani eram velozes e técnicos, sem serem fortes; e Falcão era forte, técnico e veloz. Um extraclasse.

Aquele Inter foi uma contundente reação ao Inter do passado, o Inter clássico de quem o símbolo era Bráulio, um jogador puramente técnico, mas pouco participativo. Bráulio transformou-se em cavalo de batalha: eram os “braulistas” contra os “antibraulistas”. Ibsen Pinheiro se alinhava ferozmente entre os últimos. Lembro de quando surgiram os gêmeos Diego e Diogo no Inter, tempos atrás. Eram jogadores pequenos, manhosos e não muito competitivos. Ibsen recomendou:

– Vendam logo, antes que façam sucesso. Porque depois vai ser difícil de vender.

Curiosamente, o Grêmio, que servira de modelo ao Inter, desaprendeu, nos anos 70, as razões de seu sucesso. Os jogadores-símbolo do Grêmio, naquela época, eram Caio e Gaspar, chamados por Lauro Quadros de “Os Amigos da Bola”. Eram amigos da bola, mas não do time. Jogavam para o espetáculo, não para a vitória.

De lá para cá, nunca um time da Dupla Gre-Nal foi vitorioso sem que houvesse entrega dos jogadores, sem que todos jogassem para o coletivo. Paulo César Caju, Tita, Dener e Roger, quando jogaram no Grêmio, continuaram jogando com toda a habilidade que a Natureza lhes deu, mas corriam, marcavam, acossavam o adversário, como a história do clube exigia. Assim, foram amados pela torcida. Assim, se tornaram vencedores.

Douglas, quando jogava no time de Renato, dizia só jogar com a bola no pé. Mentira. Douglas corria, combatia, até tomava a bola do adversário. Agora, sim, ele só joga com a bola no pé. Agora ele é um jogador do passado. E o Grêmio um time do passado. De um mau passado.

A pior de todas as decisões

Um comandante, seja lá o que comande, seja uma fruteira, seja um país, um comandante tem que tomar decisões. Se for a decisão correta, tanto melhor. Se for a errada, paciência. Mas há que se tomar decisões. O pior que pode fazer um comandante é não fazer. Não decidir.

Os dirigentes do Inter decidiram não decidir quem será o técnico sucessor de Falcão. Decidiram... esperar... Estão, agora, dependendo do imponderável, do que se costuma chamar de “sorte”. No caso, o bom sucesso do torneio da Alemanha. Que pode ocorrer, já que os europeus estão em começo de temporada. Mas, se não ocorrer, a inércia cobrará caro seu preço. E a cobrança virá já no Aeroporto Salgado Filho.

Honra à tradição

O Uruguai campeão da América é um time sem moicanos. Um time em que seus principais jogadores, os atacante Forlán e Suárez, combatem, preenchem espaços, deslocam-se, incomodam os zagueiros adversários o tempo todo. O Uruguai honra as tradições da Celeste Olímpica. Parece um time do passado. É do futuro.

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