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terça-feira, 12 de julho de 2011
12 de julho de 2011 | N° 16757
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA
Uma garota na neve
Fez frio em Porto Alegre e quando me levantei os termômetros marcavam três graus, sinal de que mais cedo haviam mergulhado em temperaturas bem mais profundas.
Sou um habitante do outono e do inverno. Detesto cordialmente os trinta e tantos graus de nosso verão e guardo amenas recordações de dias e noites em que vivi abaixo de zero. Lembro que certa vez em Munique os meteorologistas anunciavam de manhã menos 17 graus, e ainda assim saí à rua, desafiando os ponteiros glaciais com a cara e a coragem.
Em Hamburgo, na mesma ocasião, abri as cortinas do apartamento de hotel e deparei com uma camada branca , cobrindo telhados, ruas, praças, pessoas, animais e coisas.
Eu próprio senti a neve pousando mansamente em meus cabelos ao desembarcar no aeroporto de Dresden, mas o espetáculo era belo demais para que me importasse com a recepção gélida e imprevista. Depois tomei um trem para Berlim, e os flocos me acompanharam durante toda a viagem pelas janelas panorâmicas da primeira classe.
A maior sensação de frio por que passei não ocorreu no entanto na Europa, mas nos Estados Unidos. Eu estava no topo das Montanhas Rochosas, numa cidadezinha chamada Steamboat Springs, famosa por suas pistas de esqui, e acordei, num sábado, prisioneiro da neve. Parecia que o mundo havia sumido num imenso painel branco. Gente, árvores, casas tinham sido engolidas por um imenso manto alvo, com ares de eternidade. Depois tudo virou uma múltipla escultura de gelo, que durou dias e semanas.
Mas a impressão mais duradoura de neve me ficou mesmo desta nossa Porto Alegre.
Na tarde de 24 de agosto de 1984 assisti da Redação de Zero Hora aos flocos caindo na rua que tem o nome do jornal. Foi um espetáculo lindo, ainda que não tenha durado muito. A lembrança mais impressiva que me restou foi a de uma garota anônima e belíssima que passava lá fora e cujos cabelos loiros foram decorados em momentos por efêmeros ornatos.
Escrevo ainda sem saber se vai nevar de novo em Porto Alegre. O frio permite supor que sim.
Contudo me comove, tantos anos depois, a recordação da garota anônima.
Quem era? Para onde ia? São perguntas de difícil resposta. Mas me agrada pensar que ia para um encontro de amor.
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