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sábado, 1 de dezembro de 2007
01 de dezembro de 2007
N° 15435 - Paulo Sant'ana
Um crime bárbaro
Ainda ressoa no Brasil e no mundo o mais revoltante dos crimes que já se cometeram na história recente do país.
A menina L.A.B., com idade de 15 anos, com apenas 35 quilos, foi encarcerada numa cela em que havia 30 homens que se satisfizeram sexualmente nela durante 24 dias.
Aconteceu em outubro passado numa cadeia da cidade de Abaetetuba, a 89 quilômetros de Belém, no Pará.
O crime encheu de desilusão e tristeza os brasileiros e diminuiu mais ainda o conceito do Brasil no estrangeiro.
Meia dúzia dos 30 detentos exigiu que a menina fizesse sexo com eles durante os 24 dias.
Inicialmente, ela resistiu à investida das feras. Mas os presos queimaram seu corpo com pontas de cigarros e as plantas de seus pés com isqueiro.
Como ainda resistia às torturas, foi-lhe confiscada a comida, só deixariam que ela se alimentasse depois de se satisfazerem de seu corpo.
Por dois dias, a menina resistiu sem água e sem comida. Até que em troca de uma pequena ração de alimentos cedeu a um dos maiores dramas já conhecidos na crônica policial mundial.
Há um filme feito de celular em que a menina é possuída por um dos presos e uma fila de detentos aguarda a sua vez de se relacionar com ela.
Um coito, uma ração de comida, mais um intercurso, um pedaço de pão.
Foram 24 dias presa numa furna sob a maldição do medo e da dor.
Essa menina foi condenada àquele inferno, talvez por furto simples não confirmado, por uma delegada de polícia. Uma autoridade.
Cinco ou seis dias depois, foi levada à frente de uma juíza de Direito, que a interrogou e incrivelmente permitiu que ela fosse levada novamente para a cela do terror.
O promotor que tinha de atuar no caso para proteger a menor ficou envolto no manto do silêncio e da omissão.
Ou seja, aparentemente a Justiça estava funcionando, mas para fazer injustiça.
Não se compreende como é que tenha passado pelo crivo de autoridades o atentado de uma mulher presa entre homens, o que já é insustentável, mais ainda com uma menor.
Começam a vir à tona agora no Pará as barbáries nas cadeias. Surgiu o caso de uma mulher de 24 anos que foi recolhida a uma cela com dezenas de homens por ter-se recusado a massagear os pés de um delegado.
Isso tudo sob a vigência no Brasil da Constituição de 1988, que se diz redentora dos direitos individuais e protetora contra os excessos policiais.
Este fato, que representa e acoberta milhares de outros análogos Brasil afora, mostra que vivemos em um país banhado por um charco terrível de desrespeito aos direitos humanos e à civilização.
Vivemos uma sociedade animalesca, e o pior é que posamos arrogantemente de nação em que os direitos são respeitados e há instituições que os preservam e defendem.
Nada disso, somos um arquipélago desorganizado de instituições esfarrapadas, habitado por tribos de bárbaros em que os crimes mais hediondos são permitidos pelas autoridades, ou seja, cometidos pelas autoridades.
Não há diferença, no Pará, como em tantos outros locais brasileiros, entre bandidos e autoridades.
Não há dúvida de que a sociedade dos índios, que viviam no Brasil antes do Descobrimento, era mais superiormente humana que a nossa. Este crime foi horripilante.
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