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quinta-feira, 13 de dezembro de 2007
VINICIUS MOTA
Índios para cá, brancos para lá
SÃO PAULO - A Bolívia não é a Venezuela; Evo Morales não é Hugo Chávez -a cada um a sua agonia. A do boliviano é vertiginosa.
O conflito que ameaça a Bolívia de secessão tem raiz numa dupla afluência: a urbanização acelerada, de tez indígena, e a exploração em larga escala do gás natural.
Enquanto os índios e o gás estavam confinados -uns no campo, o outro no subsolo-, a política boliviana era um jogo mais simples e para brancos. Instável, mas por outros motivos.
Há 12 anos, o gás natural ocupava um discreto quarto lugar na pauta de exportações da Bolívia; era responsável por menos de 8% de tudo o que o país vendia ao mundo. Em 2005, o combustível já dominava francamente a lista -respondia por mais de 35% das exportações.
Não há nação sul-americana com taxa mais acelerada de urbanização na última década e meia. Em 1990, praticamente metade dos bolivianos ainda vivia no campo. Hoje mais de 70% estão nas cidades. Aglomeram-se em regiões metropolitanas como as de La Paz e de Santa Cruz de la Sierra.
Essa urbanização tem viés étnico. Um estudo da Cepal mostra que a região de La Paz atrai indígenas, que se concentram no município vizinho de El Alto, mas repele não-indígenas, que descem o altiplano em direção a Santa Cruz.
O maior erro da política de Morales é reforçar essa tendência ao cisma, que opõe o ocidente andino ao oriente de terras baixas e ricas.
A Bolívia imaginada no programa de Morales -em parte inscrito num projeto de Constituição sem capacidade de obter respaldo amplo no país- seria um caso raro de passagem direta da política pré para a pós-moderna.
Em vez da universalização dos direitos, a clivagem de uma sociedade inteira por critérios de identidade étnica. A reinvenção, pois, do racismo.
A libanização da Bolívia terá um round decisivo no sábado. Quatro Departamentos do leste pretendem declarar-se autônomos. Os militares serão o fiel da balança.
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