Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
quinta-feira, 20 de dezembro de 2007
A VIOLÊNCIA NO IMAGINÁRIO BRASILEIRO
Estou em Paris. Somente por três dias. Não ficarei para o Natal. Gosto cada vez mais das viagens rápidas. Depois de 11 invernos consecutivos na Europa, prefiro encerrar cada ano no calor.
Quanto mais o tempo passa, mais o frio me apavora. É verdade que a capital francesa não é das mais geladas.
O cinza, porém, sempre me assustou ainda mais. O céu pode ficar baixo e fechado dias a fio. A minha estréia no Velho Mundo, em 1991, foi em Berlim, onde ficamos três meses, com alguns dias de até 25 graus negativos.
Ainda sinto o cheiro de café na minha estação de metrô. A primeira neve não se esquece. Estou, portanto, de passagem em Paris. Vim participar como examinador de uma banca de doutorado na Sorbonne.
A tese de Vanderlan Francisco da Silva, orientada por Michel Maffesoli, intitula-se 'Dissonances Tropicales, la Violence dans l’Imaginaire Brésilien'. O tema é altamente pertinente. Sem dúvida. É incrível como estar no estrangeiro nos faz pensar profundamente o Brasil.
Não vou comentar agora o belo trabalho de Vanderlan. Direi apenas que é um precioso inventário dos discursos sobre a violência em nossa sociedade e também sobre as manifestações desse fenômeno que é, certamente, o mais característico do Brasil atual. Os franceses têm grande interesse pela cultura brasileira.
Oscilam entre a atração pela imagem do país tropical abençoado por Deus e cantado pela bossa nova e o medo de um lugar devastado pela miséria e pela desigualdade social. Eu me revi em cada página como estudante no exterior. Nunca o Brasil me interessou tanto.
Depois de dois anos sem pisar o solo brasileiro, numa época em que a Internet ainda não havia explodido, eu me senti emocionado ao botar o pé num avião da Varig. Pedi um guaraná como se fosse algo sagrado.
De fato, os tempos mudaram. A Varig passou por uma mutação a tal ponto que dela só resta a sombra. O guaraná mais conhecido pertence a uma empresa estrangeira. A violência cresceu. Muito.
A imagem do Rio de Janeiro no exterior atualmente é a de um lugar paradisíaco onde se faz sexo fácil e barato, mas se corre o risco de ser encontrado por uma bala perdida ou de se perder a caminho do aeroporto.
É o faroeste tropical. Vanderlan destaca alguns dados que fingimos ignorar, embora tenham sido divulgados pela ONU em 2006: de cada sete jovens entre 15 e 18 anos, assassinados, sete são negros.
As vítimas da violência têm cor, idade e classe social bem definida. Entre 1979 e 2003, segundo a Unesco, os homicídios cometidos no Brasil com arma de fogo aumentaram em 542,7%. Mesmo assim, vendemos uma imagem positiva.
Somos cínicos? Indiferentes? Hipócritas? Tudo isso e um pouco mais. Somos, porém, sinceros em nossas declarações de amor ao Brasil. Parte da classe média gostaria de deixar o país em busca de segurança. Pura afetação.
É gente que adoraria viver de papo para o ar em Miami recebendo dinheiro fácil de casa. Eu não trocaria o Brasil por país algum.
Mas aceitaria deportar nossa elite para os Estados Unidos, onde essa brava gente branca e privilegiada poderia enriquecer novamente fazendo faxina.
De minha parte, passarei o Natal em Santana do Livramento. Farei a minha visita ritual a Palomas. A virada do ano será em Santa Catarina, no Santinho. Não quero sexo fácil. Basta não ter bala perdida.
juremir@correiodopovo.com.br
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