sábado, 22 de dezembro de 2007



23 de dezembro de 2007
N° 15457 - Paulo Sant'ana


Prêmio pra meu interino

Nesta semana que passou, em solenidade na Associação Riograndense de Imprensa, o jornalista Moisés Mendes recebeu o prêmio ARI de crônica, em um texto intitulado "A nascente do rio".

Ocorre singularmente, no entanto, que Moisés Mendes ganhou este ambicionado prêmio porque concorreu com uma crônica que escreveu na minha coluna, como interino.

Junto com o troféu, por essa sua crônica escolhida como primeiro lugar pela ARI, Moisés Mendes recebeu R$ 3 mil de prêmio.

Quero declarar que nunca me inscrevi, com nenhuma das quase 15 mil colunas que já escrevi em Zero Hora, para este concurso da ARI por um só motivo: os concorrentes passariam a ter chance zero e perderia a graça a competição.

No entanto, o Moisés teve o topete de inscrever uma crônica sua, só que no espaço de minha coluna, como interino, como candidato à glória suprema do colunismo gaúcho. E venceu.

Mas venceu usando o espaço de minha coluna, como meu interino, enquanto eu estava no degredo do hospital.

Repito, quero declarar que o Moisés apenas repetiu a vocação genética de algumas aves, entre elas os chupins, que expulsam os tico-ticos de seus ninhos e se adonam temporariamente deles. O Moisés Mendes chocou os seus ovos num ninho que construí, a minha coluna.

Não é a primeira vez que ganha este prêmio da ARI um jornalista com crônica escrita no espaço de minha coluna, como meu interino.

Há nove anos, o jornalista Mário Marcos de Souza também ganhou o mesmo prêmio, usando o meu espaço.

Agora virou mania.

Não tenho nada contra a vitória do Moisés Mendes. Mas tenho contra o fato de ele embolsar R$ 3 mil pelo prêmio, valendo-se do meu espaço.

Não sou imperialista, não vou exigir que o Moisés me pague R$ 2 mil por ter rapinado o meu espaço para ganhar o prêmio.

Mas vou dar uma de El Rachid e solicitar que o Moisés Mendes deposite em minha conta bancária pelo menos R$ 1 mil, até o dia de amanhã.

Caso contrário, se quiser se negar a confessar que tenho direito a esta recompensa, tomarei providências na Justiça.

Quero R$ 1 mil não por direito autoral, pois a crônica foi escrita pelo Moisés e não por mim, mas por dois institutos do Direito que me amparam: o aluguel de espaço e o arrendamento de marca.

E agora já sei por que acontece um alvoroço entre os prováveis interinos da minha coluna aqui na Redação, sempre que não venho trabalhar por estar doente.

Eles não se agitam só pelo desejo naturalmente humano de aparecer em espaço privilegiado da imprensa brasileira.

Há também, por trás disso, o interesse pecuniário. Pois então, Moisés Mendes, passe-me para cá, depressa, esses R$ 1 mil que você me deve.

Se a coluna agora passou a ser um excelente negócio financeiro, então, Moisés, que nos locupletemos todos.

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