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sábado, 29 de dezembro de 2007
Ronaldo Soares - Oscar Cabral
O campeão do ano na Bolsa
Eike, em seu quartel-general no Rio: com uma só empresa, ganho de 6 bilhões de dólares desde 2006
A trajetória empresarial de Eike Fuhrken Batista alternou feitos memoráveis e fracassos retumbantes. Ele explorou com sucesso a maior mina de ouro e prata da América do Sul, no Chile.
Também perdeu muito dinheiro em investimentos aventureiros, como uma fábrica de jipes e uma empresa de entregas pela internet. Com a exuberância do mercado de capitais brasileiro, no entanto, esse empresário de 50 anos se reinventou.
Antes mais lembrado como o marido de Luma de Oliveira, a modelo com quem tem dois filhos, o empresário promoveu uma virada em sua imagem. De aventureiro, firmou-se como um empreendedor de peso.
Foi Eike (pronuncia-se áique) quem melhor aproveitou a onda de IPOs (oferta pública inicial de ações), que começou em 2004 e atingiu seu auge em 2007.
Ele encabeça uma lista da revista Exame com os bilionários que mais lucraram com a febre da abertura de capital. O resultado pode ser atribuído ao desempenho da maior empresa de seu grupo, a mineradora MMX.
Quando a companhia abriu o capital, em julho de 2006, seu valor de mercado era de 1,4 bilhão de dólares. No fim de 2007, a cifra atingiu 7,5 bilhões de dólares (veja o quadro). Em um ano e meio, Eike ganhou 6 bilhões de dólares.
No fim de novembro, o empresário deu mais um salto surpreendente. Investiu 1,5 bilhão de reais na aquisição de 21 áreas de exploração no leilão da Agência Nacional de Petróleo (ANP). Sua empresa, a recém-criada OGX, superou gigantes como a Vale e a Petrobras. Foi a grande vencedora do certame, com quase 75% do total arrecadado.
O dinheiro para tal aventura? Há duas semanas, a OGX captou 2,3 bilhões de reais numa operação de emissão privada de ações, conhecida como private placement. Foi a maior operação desse tipo realizada na América Latina. Ela só foi possível com a ajuda de craques recrutados a peso de ouro no mercado – preocupação característica do "novo Eike".
Ele tem a seu lado economistas do porte de Francisco Gros, ex-presidente do Banco Central, e Paulo Mendonça, cujo passe foi comprado por um salário de 200 000 reais por mês. Mendonça era gerente de exploração e produção da Petrobras. Virou diretor de exploração na OGX.
Nascido em Governador Valadares (MG), Eike é o segundo dos sete filhos de Eliezer Batista, que presidiu a Companhia Vale do Rio Doce e foi ministro de Minas e Energia. Ele passou a infância no Rio de Janeiro e, aos 12 anos, mudou-se com a família para a Europa.
Quando voltou ao Brasil, aos 23 anos, investiu numa mina de ouro na Amazônia. Expandiu seus negócios e fez fortuna com a exploração de minas também no Chile e no Canadá. Até alguns anos atrás, atribuía-se, com certa dose de maldade, seu enriquecimento a uma espécie de herança genética.
Corria à boca miúda que, por causa dos laços paternos, ele teria obtido um mapeamento do subsolo brasileiro feito pela então estatal Vale do Rio Doce. "Esse mapa nunca existiu.
Se fosse assim, eu estaria dentro de Carajás", diz Eike, referindo-se à mina da Vale no estado do Pará da qual, desde o início de suas operações, em 1984, já se extraiu 1 bilhão de toneladas de minério de ferro.
Mesmo seus desafetos, no entanto, reconhecem em Eike um talento fora do comum para atrair investidores estrangeiros para suas empreitadas.
Assim como seu pai, Eike sempre mantém bom relacionamento com o Planalto. Na administração Lula, aproximou-se de José Dirceu, contratado mais tarde por Eike como intermediário junto ao governo de Evo Morales para tentar salvar uma siderúrgica de Eike da sanha estatizante boliviana.
Como se sabe, não deu certo. Eike não desistiu da Bolívia, mas dispensou os serviços de Dirceu. No Brasil, mantém o apetite por novos negócios, cada vez mais diversificados.
Suas apostas atuais incluem uma empresa de reflorestamento e restaurantes – mantém o chinês Mr. Lam, no Rio, e pretende abrir, no Brasil, filiais do nova-iorquino Nobu, de comida japonesa.
Também cogita criar uma empresa de saneamento para despoluir a Lagoa Rodrigo de Freitas, um dos cartões-postais do Rio. Há duas semanas, ele inaugurou um navio de luxo para passeios na baía.
No dia seguinte à inauguração, caiu uma chuva torrencial no Rio. Mau presságio? Pouco importa. O horizonte nunca esteve tão azul para Eike Batista.
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