segunda-feira, 17 de dezembro de 2007



17 de dezembro de 2007
N° 15451 - Luiz Antonio de Assis Brasil


Palavras (21)

Alma - Violinos, violoncelos, violas e contrabaixos têm uma alma.

É uma invisível haste cilíndrica de madeira, dentro do instrumento, que une o tampo ao fundo. Uma astúcia do fabricante.

Sem a alma o instrumento não soará.

O som morrerá antes de atingir nossos ouvidos.

O som, mesmo belo e carregado de intenções, estará perdido para sempre.

Camille Claudel - Alma é a estrutura em ferro ou madeira, em torno da qual a escultora realiza seu trabalho de modelagem.

Sem a alma, não haverá sustentação para a escultura.

A escultura simplesmente desandará, transformando-se num monte de argila ou gesso.

O avô - Alma é o que fica escondido. Ao mesmo tempo, e por definição, é imortal. Perturbador: o imortal obrigatoriamente deve estar às ocultas.

O aparente, o que se mostra aos olhos, será perecível como as ostras ou como nosso avô. Mesmo sem conhecermos Heidegger, julgávamos nosso avô um ser pronto para a morte.

Difícil era pensar na existência de uma alma em seu corpo tão precário, tão doente.

Desalmado - É quem não tem compaixão, quem não vibra sentimento humano, quem não ressoa ao ser tocado.

É quem sucumbirá a uma pequena dor ou a uma insuportável alegria.

Homero - Ele pensava o ser humano com duas almas; uma, o thymos, pertence ao mundo, é composto pelo sangue e pelo hausto de ar que respiramos. É o thymos que nos faz pertencentes a este mundo, nos faz enraivecer, por exemplo.

A outra alma, a psychè, é sombria e severa. Longe de ser uma luz da luz, é uma sombra. Ela se refere à morte. Ela acompanha o homem ao Hades. Os deuses não possuem a psychè, porque não morrem. É a psychè que faz a diferença entre os homens e os deuses.

Foi esse elaborado pensamento que fez Homero escrever a Odisséia. Sem esse pensamento não haveria a Odisséia.

Epicuro, que pregava a mortalidade da alma pela dissolução da matéria, legou-nos apenas a dúbia palavra "epicurista".

O violino - O que pensará, acerca dessas metafísicas, o humilde violino com sua frágil alma, a qual se reduz a um cilindro de madeira?

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