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sexta-feira, 21 de dezembro de 2007
21 de dezembro de 2007
N° 15455 - David Coimbra
Monstrinhos de celular
Numa dessas tardes abrasadoras de fim de ano, tempos atrás, fui palestrar aos alunos da Escola Estadual Cândido de Godói, na zona norte da capital de todos os gaúchos. Já ao entrar, reparei que a escola era muito limpa e bem organizada, tudo em seu lugar, tudo rebrilhando como talheres de hotel.
As professoras levaram-me para um auditório onde 300 adolescentes e seus hormônios formigantes me esperavam. Ou talvez fossem 400.
Não duvido que chegassem a 500. Enfim, lá estava eu, de microfone em punho, olhando perplexo para aquele lago de adolescentes que gritavam, pulavam, uivavam e se esganavam com a fúria e a energia de mil bisontes com dor de dente. Como detê-los?
Como aquietá-los? Era evidente que eu não conseguiria nem abrir a boca. Lancei um olhar de aflição para os professores, sentados atrás de mim, como se lhes pedisse socorro.
Pareciam estranhamente tranqüilos. Pareciam estar acostumados com a situação. Então, do meio deles ergueu-se uma mulher, que, vim a saber depois, era a diretora Marlise Wienandts. Ela caminhou serenamente até a frente do palco e parou, olhando a assistência.
E, sem que emitisse um único som, sem que gesticulasse, sem nem piscar, calou a todos. Em um segundo, ninguém mais falava. Em 10, ela me apresentou. Em meia hora, quedava-me encantado com a atenção, o interesse e a inteligência dos alunos.
Descobri mais tarde que a condução firme dessa diretora transformou a Cândido de Godói em uma espécie de modelo de escola. Uma das professoras, hoje aposentada, falou-me do prazer que sentia em trabalhar lá. Tanto que, quando havia uma tarefa extra a executar, fazia-a na escola mesmo, adiando o momento de voltar para casa.
Naquela tarde, saí do colégio pensando que educadores como a diretora Marlise eram heróis do Brasil. Agora, semana passada, pensei nela outra vez. Por causa da lei que a Assembléia aprovou, proibindo os telefones celulares em salas de aula.
Como a diretora Marlise deve estar envergonhada, ao tomar conhecimento dessa lei. Deve ter concluído, com razão, que a mera cogitação de se votar uma lei que tal é o atestado de incompetência dos professores do Rio Grande do Sul.
Se o professor não conquistou autoridade para dizer como o aluno precisa se comportar em sala de aula, que credibilidade terá para convencê-lo da utilidade da Fórmula de Báskara? É esse tipo de professor que vai bater sineta em frente ao Palácio Piratini, pedindo aumento?
A vergonha que essa proposta de lei significa para o magistério só se equivale à que representa para a própria Assembléia Legislativa. Os deputados gaúchos legislando sobre uma norma de sala de aula!
Qual será o próximo projeto? A proibição da cola? A regulamentação do espancamento de professores? O estabelecimento das regras do Três-Dentro-Três-Fora que se joga na hora do recreio?
Agora, o opróbrio definitivo recai sobre as famílias gaúchas, estufas de monstrinhos que, hoje, só se comportam em aula sob a sombra dos cassetetes da Brigada, e que, amanhã, estarão desviando, falsificando, forjando, roubando.
São esses os pais gaúchos, e os deputados gaúchos, e os educadores gaúchos. É esse o Rio Grande do Sul.
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