sábado, 22 de dezembro de 2007



23 de dezembro de 2007
N° 15457 - Comportamento


Então, e-Natal

O hábito de mandar cartões de Natal para amigos e familiares pelo correio está diminuindo a cada anoHouve um tempo em que faltavam galhos nos pinheiros ou espaço na parede para pendurar tantos cartões de Natal que chegavam com o carteiro.

Quem quisesse poderia até colecionar. Mas, hoje, só ficam lotadas as caixas de e-mails com animações e ilustrações coloridas de Boas Festas. Eis a questão do Natal pós-internet: o hábito de enviar cartões pelo correio está desaparecendo.

Os números confirmam: a cada ano diminui a compra de cartões de Natal nos Correios. Outro indício conclusivo vem do Unicef, que tradicionalmente vende cartões de Natal em benefício da instituição.

José Afonso Braga, coordenador nacional de mobilização de recursos do Unicef no Brasil, afirma que há 10 anos as empresas eram somente 40% da clientela - os outros 60% correspondiam à compra miúda, de quem queria cumprimentar familiares e amigos.

Agora, essas porcentagens se inverteram. Muitos remetentes migraram para o meio virtual, deixando o carteiro como emissário de empresas que optam por uma abordagem mais personalizada e dos que fazem questão de manter a tradição natalina na família.

A porta da casa da administradora Márcia Bahlis Moreira, 24 anos, costumava ficar lotada de cartões em dezembro. Hoje, diz ela, são tão poucos que não valeria a pena pendurar. A menos que imprimisse tudo que chega por e-mail.

Mas não desiste. Há dois anos, fundou uma comunidade no portal Orkut que pedia "Envie cartões de Natal!" - só 57 pessoas se juntaram a ela, e apenas duas ou três chegaram a enviá-los pelo correio.

Neste ano, Márcia pode até não ter mais tempo para desenhar ela mesma os cartões a lápis de cor e canetinha como fazia (uma de suas criações está pendurada no pinheiro ao lado), mas segue firme: já mandou cartões para 20 pessoas. Até quarta, o carteiro havia lhe trazido um único cartão.

- Espero que essa tradição não se acabe. Quero de volta a sensação de esperar o carteiro - diz Márcia.

A tradição que Márcia quer manter teria iniciado com o britânico Henry Cole, em 1843: homem muito atarefado, ele encomendou a uma gráfica cartões de Boas Festas com os dizeres prontos.

Então, não é de surpreender que a mesma falta de tempo seja hoje a alegação de muitos para não mandar cartões ou aderir à praticidade do e-mail.

Outras hipóteses concorrem: o fim dos cartões pelo correio é sinal da vida muita dura e do individualismo de hoje, opina o aposentado Décio Lima, 74 anos, que enviou mais de 20 cartões este ano e espera não receber mais do que quatro.

As pessoas têm deixado de lado os pequenos gestos que trazem tanto calor, diz a empresária Déa Antunes, 60, cuja contabilidade de dezembro incluía 35 cartões enviados e seis recebidos até quarta passada.

A comerciante Raquel Müller, 53, aposta na correria de fim de ano: ela mesma mal teve tempo de agilizar a correspondência natalina deste ano.

PATRÍCIA ROCHA

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