segunda-feira, 24 de dezembro de 2007



24/12/2007 e 25/12/2007
N° 15459 - Kledir Ramil


Papai Noel existe

Já contei essa história, mas não resisti, vou contar de novo. Só de relembrar, fiquei rindo sozinho.

Há alguns anos, uma rede de televisão me convidou para participar de uma matéria especial de Natal. A idéia era me vestir de Papai Noel, ir até um shopping center e conversar com as pessoas para ver quem descobria minha identidade.

Tenho 1m80cm de altura e peso 60 kg. Sou o tradicional magrão. Meu biotipo é exatamente o oposto do bom velhinho, o que daria um charme todo especial à brincadeira.

Consegui uma fantasia emprestada com o meu amigo Nagib, que tem um corpo extra extra large, uma barba meio esbranquiçada e, por isso mesmo, todo 25 de dezembro é convocado pra ser o Papai Noel nas festas dos amigos.

Me enfiaram uma máscara na cara, cheirando a mofo e naftalina, e lá fui eu, naquela fantasia ridícula, com um travesseiro na barriga e um pensamento fixo: "Papai Noel existe. Sou eu!".

Mas o que era para ser uma diversão acabou virando tragédia.

Logo na chegada, no shopping, encontramos outro Papai Noel. Sentado num trono, num palco decorado com motivos natalinos e uma garotinha no colo tirando fotografia.

Havia uma fila enorme para chegar até ele. Resolvi então fazer uma graça. Virei pra equipe de TV que me acompanhava, falei "gravando" e avancei contra o gorducho:"Impostor!! Farsante!!".

E gritava para as crianças e para a câmera: "Não acreditem nesse velho barbudo. Eu sou o verdadeiro Papai Noel". E apontando o outro: "Olhem só, essa barba é falsa...".

Botei um pé na barriga do velho, me agarrei nos pêlos brancos do pobre coitado e comecei a puxar. Ou a porcaria da barba era verdadeira, ou estava muito bem colada.

O velho começou a gritar e jogou a criança por cima do ombro que caiu de cabeça, graças a Deus, na montanha de presentes. O trono virou pro lado e nós os dois, o gordo e o magro, rolamos pelo chão enredados na cortina de veludo do cenário.

Meu pé enroscou no fio do microfone arrastando o cameraman, que perdeu o equilíbrio e, por puro reflexo, se agarrou na primeira coisa que encontrou: um galho da árvore de Natal.

O enorme pinheiro veio abaixo, trazendo junto a iluminação com milhares de luzinhas que decoravam o Mall.

Um dos fios desencapados foi parar no chafariz central e o sistema elétrico do prédio entrou em curto circuito. A luz apagou e o pânico foi geral. As crianças começaram a chorar e gritar.

Os pais indignados me jogavam o que tinham nas mãos: pipoca, sorvete, telefone celular... A gurizada avançou contra mim e só não fui linchado porque chegaram os seguranças do shopping e me levaram sob escolta.

Fui embora, mas com um chumaço de barba branca na mão.

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