sexta-feira, 28 de dezembro de 2007


CLÓVIS ROSSI

Chamar as coisas pelo nome

SÃO PAULO - Gestos humanitários são sempre elogiáveis. Mas termina aí -ou deveria terminar aí- qualquer atitude de legitimação das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) a partir da previsível libertação hoje de três das centenas de reféns que o grupo mantém.

Como os governos que testemunharão a operação são todos de origem esquerdista, está na hora de parar de tratar os narcoterroristas como "hermanos".

Se alguma vez tiveram um viés político, justificado ou não pelo contexto de outros momentos históricos, hoje as Farc são apenas um grupo de delinqüentes.

E é preciso que se use a palavra certa especialmente na hora em que ocupam o noticiário internacional exatamente por conta do episódio dos reféns.

Quem ler os depoimentos dos parentes das três vítimas a serem presumivelmente libertadas hoje encontrará histórias tremendas de violação dos mais elementares direitos humanos.

Em especial, as mulheres de esquerda deveriam ser as primeiras a erguer o grito ao céu, porque uma das que devem ser libertadas, Clara Rojas, teve um filho no cativeiro, de um dos captores.

Pode até ter sido uma relação consentida, mas que tipo de consentimento uma mulher pode dar a um homem quando ela é prisioneira dele?

Silenciar a respeito, a pretexto de que se trata de um combate contra o imperialismo e contra o capitalismo, é, primeiro, mentir. Depois, é sacramentar a mais absurda das violências, desde que seja do "meu" lado.

Intolerável em qualquer circunstância.
O "espetáculo" previsto para hoje só se tornou possível graças ao hiperativismo do presidente francês Nicolas Sarkozy.

Depois do show, deixar que apodreçam na selva os demais reféns é aceitar que há cidadãos de primeira e de segunda classe. Tudo o que governantes supostamente de esquerda não poderiam tolerar.

crossi@uol.com.br

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