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sexta-feira, 14 de dezembro de 2007
14 de dezembro de 2007
N° 15448 - Paulo Sant'ana
Só sobre a saúde
Chego à garagem e o manobrista me informa: "Retirou seu carro há pouco a jornalista Celia Ribeiro. Disse-me que está preocupadíssima com a sua saúde, dr. Paulo SantAna".
Que força estranha de solidariedade há no ar, capaz de levar uma jornalista a se preocupar com minha saúde e um manobrista de garagem se lincar a ela nessa preocupação?
Que espécie de bondade envolve o pericárdio dessa mulher, Celia Ribeiro, de tal forma estuante que a arremessa para a ternura comovente de se preocupar com a minha saúde até nos labirintos de uma garagem?
Abençoados e benditos sejam todas as pessoas públicas e anônimas que se preocupam com minha saúde, como se eu fosse imprescindível para elas.
Esses dias um leitor me pegou na rua e me disse: "Sei que fumas três maços por dia e comes doces adoidado, sendo diabético. O Código Penal te concede o direito de te suicidar.
Se queres morrer e tudo fazes para que isso aconteça, pouco se me dá. Te rala. Mas te pergunto: caso morras, como é que nós, teus leitores, ficaremos?
Como resistir à tua definitiva falta? Antes de te suicidares, pensa nos outros e desliga de ti. Deixa de ser egoísta e faze força para continuares vivendo e nos brindando todos os dias".
Assisti até as duas da madrugada de ontem a sessão que extinguiu a CPMF.
Foi uma das mais históricas sessões do Senado, pela teatralidade sucessiva na tribuna, um grande baile de máscaras.
Em determinado momento, assumiu a tribuna o senador Paulo Paim (PT-RS). Sempre tão calmo na tribuna, ontem Paim incendiou-se surpreendentemente em eloqüência e emoção.
Defendeu ardorosamente a prorrogação da CPMF, dizendo que aquele imposto tinha de ser prorrogado em defesa dos pobres. Eletrizou e empolgou a todos os presentes e telespectadores da TV Senado o discurso emocionante de Paulo Paim.
Cheguei a desconfiar, pela força do discurso de Paim, que a CPMF seria prorrogada.
A seguir subiu a tribuna o senador Heráclito Fortes (DEM-PI). Simplesmente lembrou que em 1996, quando foi criada a CPMF e governava o país Fernando Henrique Cardoso, o então deputado federal Paulo Paim subiu à tribuna da Câmara e fez um discurso candente, chegando a chorar, afirmando que "a CPMF massacrava os pobres".
Viu-se pela televisão que, na sua poltrona, Paulo Paim, talvez o mais ativo e producente senador entre os 81, quando ouviu Heráclito Fortes dizer isso, sentiu o chão fugir-lhe aos pés.
Foi quase sempre assim na sessão que terminou na madrugada de ontem. Os senadores e partidos que, durante o governo FH, amaldiçoaram a CPMF, ontem a abençoavam.
Os partidos e senadores que antes caíam de amores pela CPMF agora, no governo Lula, reduziram em frangalhos a CPMF com seus argumentos.
Ou seja, o Senado quase que inteiro, tanto na situação quanto na oposição, não tem nenhum compromisso com a coerência.
Caiu a CPMF por quatro votos de diferença. E agora vem aí o longo torneio da ressaca da CPMF, com o governo já acenando que tomará represálias contra a falta que os R$ 40 bilhões da CPMF farão aos seus cofres, ameaçando aumentar outros impostos por medidas provisórias.
Já começaram a cair as ações nas bolsas e vão aumentar os impostos. Quando se pensava que com a extinção da CPMF tivessem sido diminuídos os impostos.
Resta-nos só torcer que não decline mais do que já está declinante o atendimento gratuito nos hospitais e postos de saúde.
Rogo a Deus que não piorem os doentes.
Rogo a Deus para que morra menos gente nas filas das cirurgias e das consultas.
Porque os pobres e os doentes brasileiros não têm culpa nem responsabilidade pelo teatro mambembe da democracia nos plenários do Congresso Nacional.
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