quarta-feira, 19 de dezembro de 2007



19 de dezembro de 2007
N° 15453 - martha medeiros


Violência no trânsito

Vesti a camiseta da campanha que a RBS inicia hoje, que pretende conscientizar os gaúchos sobre as terríveis conseqüências de um trânsito violento. Não sou tão otimista a ponto de acreditar que um dia o problema terminará de vez, mas é óbvio que o número de colisões pode ser bem menor.

Só que isso não se resolve apenas melhorando as estradas e a sinalização. O que produz essa quantidade inaceitável de acidentes é a imprudência do motorista. E aí não adianta investimento financeiro, é preciso investimento psicológico.

Até uma leiga no assunto, como eu, sabe que dirigir correndo, ziguezagueando e fazendo ultrapassagens perigosas nada mais é do que desafiar a morte. E por que desafia-se? Porque é um atitude de afirmação.

O motorista pode ser o bambambã no escritório, o supermacho dentro de casa, o melhor artilheiro do time: não basta. Ele quer provar pra si mesmo, dentro do carro, que é infalível e que não teme nada. É um prazer pessoal e difícil de controlar. Ele tem necessidade de se satisfazer através do risco.

É seu momento de mocinho do filme, de super-herói - ou de vilão, porque a agressividade também o seduz. Ou seja, uma questão tão séria como violência no trânsito está associada a uma atitude infantil, a uma fantasia de guri. Atrás do volante não existe necessariamente um mau-caráter, um irresponsável crônico.

Existe um ser humano normal que talvez até seja calmo e ponderado na sua rotina, mas que ao ligar seu brinquedo volta pros tempos do autorama. Como fazer essa criatura domesticar os seus ímpetos?

É aí que podemos fazer alguma diferença, meninas. As estatísticas dizem que a maioria dos acidentes é provocada por homens. Quem são eles? Nossos namorados, maridos, filhos, pais, amigos.

Estamos muitas vezes dentro do carro com eles, sentadas ao seu lado enquanto eles fazem barbaridades, e muitas ficam caladas para evitar uma discussão. Sem essa. Se o cara está abusando, fale: desacelera senão eu desço.

Se eles acham que somos chatas, ainda não viram nada. Vamos azucriná-los. Vamos engrossar a voz dentro do carro. Vamos abrir a porta e descer mesmo. Ou confiscar a chave e assumir a direção. O jeito é infernizar, pois nossa segurança é inegociável.

Eles não têm o direito de matar os passageiros que transportam - e aqueles com que cruzam na rua - só porque não conhecem outra maneira de se sentirem audaciosos.

Eles que saltem de pára-quedas, que escalem uma montanha, que se inscrevam no próximo Paris-Dacar, que busquem adrenalina sem envolver os outros.

Não sei se a violência no trânsito terá fim, mas bater insistentemente nessa tecla já é um começo.

Ainda que com chuva que tenhamos todos uma ótima quarta-feira.

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