quinta-feira, 27 de dezembro de 2007


CARLOS HEITOR CONY

A tese e a prática

RIO DE JANEIRO - Respeitei, e até certo ponto admirei, a greve de fome do bispo contrário à transposição do rio São Francisco. Mas desde que ouvi falar no projeto, fui a favor dele, escrevi algumas crônicas no passado, citando inclusive as experiências bem-sucedidas nos Estados Unidos e no Egito.

Uma obra de tal magnitude exige dois tipos de preliminares. A primeira é sobre o projeto em si, se ele está tecnicamente perfeito, se cumpre a legislação ambiental, se resguarda as características naturais do Velho Chico, sem prejudicar as populações que vivem em suas margens.

A segunda preliminar implica a fiscalização severa dos custos, para impedir que a transposição se converta num panamá -o nome do escândalo nasceu por ocasião da construção do canal do Panamá.

O mesmo ocorreu com o canal de Suez e com quase todas as grandes obras, daqui e do mundo, que hoje consideramos indispensáveis à vida moderna.

No Brasil, tivemos muitos desses casos: para citar alguns, a construção de Brasília, do estádio do Maracanã, da ponte Rio-Niterói, da estrada Belém-Brasília, do desmonte do morro do Castelo. Um juiz está preso por conta de um único pré- dio do Judiciário paulista que o enriqueceu.

As obras que citei foram discutidas na época quanto a sua importância e necessidade, mas hoje são consideradas decorrências naturais do processo de nossa ainda relativa modernidade.

Não tenho condições para julgar se o projeto está bem feito tecnicamente, se os custos são condizentes, se as vantagens da transposição serão obtidas. Acácio disse: uma coisa é a tese, outra a sua realização prática.

Quanto à possibilidade de um escândalo tamanho família, espera-se que o Ministério Público e a mídia cumpram o seu dever.

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