03
de maio de 2013 | N° 17421
EDITORIAIS
O desmanche da
lei
O
Estado conspira contra suas próprias estratégias no esforço para combater o
roubo e o furto de veículos. A chamada Lei dos Desmanches, decisiva para inibir
esse tipo de delito, surgiu em 2007 como o instrumento que faltava nas ações preventivas
da polícia, mas até agora é tratada com certo descaso.
Não
há justificativa para o fato de que, depois de ficar por quatro anos à espera
de regulamentação, a legislação continue tropeçando na burocracia. Implantadas
apenas parcialmente, mas não no que é essencial, as normas ainda dependem do
cadastramento das empresas para que, posteriormente, as peças resultantes
vendidas em desmanches sejam controladas.
Como
reconhece o titular da Delegacia de Roubo de Veículos, delegado Juliano
Ferreira, o cerco à delin-quência que atua nessa área somente será fechado se
não se concentrar apenas nos ladrões.
É o
receptador, que revende ilegalmente peças usadas avulsas, quem orienta a ação
das quadrilhas. Ladrões de veículos agem quase sempre sob encomenda. Por isso,
nenhuma ação obterá sucesso se não reprimir atividades clandestinas, muitas
vezes sob a fachada de oficinas.
O
descontrole é tão grande, que nem mesmo os órgãos do setor chegam a um
entendimento sobre o número de desmanches no Estado. É exagerada a discrepância
entre as estatísticas do Detran, que calcula os desmanches em 758, e da Polícia
Civil, que estima a existência de mais de 3 mil. Apenas um dos dois deve estar
certo – ou, o que é pior, ambos podem estar errados, em meio à informalidade que
caracteriza uma atividade propensa a irregularidades.
Enquanto
isso, o número de furtos e roubos aumenta em todo o Estado, como revelou ontem
este jornal. O atual governo, reprisando o comportamento dos antecessores,
demorou para reagir a esse tipo de crime, com o novo comando na delegacia
especializada.
O
roubo de um veículo não significa apenas a perda de um patrimônio, mas uma ação
criminosa agressiva, na maioria das vezes com o uso de armas. É inaceitável,
principalmente para quem já foi vítima dessa violência, a desculpa de que o
Estado enfrenta dificuldades para implantar controles que poderiam reduzir
furtos, roubos e mortes.
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