sexta-feira, 2 de novembro de 2012


Jaime Cimenti

Reinvenção de vivos e finados

Finados, mortes. Seria melhor nem precisar tocar nesses assuntos, nem no Dia de Finados, como, aliás, muita gente esperta, moderna e ocupada demais com tantas outras coisas já está fazendo. Esses negócios de luto, roupas pretas, sentimento de morte, pompas fúnebres e tal ficaram meio para trás nesses tempos apressados.

A galera, de repente, está mais interessada no feriado, em outros lances mais vivos e elabora o luto rapidinho. Se a única certeza com relação ao futuro é o tal encontro com a moura torta, talvez o melhor seja ficar assobiando no escuro, disfarçando o medo e pensando em assuntos mais amenos.

Mas a memória e o pensamento são inevitáveis como o olfato e, neles, as coisas acontecem muitas vezes. E as pessoas não perderam a mania chata de morrer e convidar para funerais. Fazer o quê?  Nesses tempos em que a gente tenta se reinventar, como diz o outro, que tal também reinventar as memórias, a morte e os que já estão no andar de cima?

Ao menos isso, não é? Novas visões, novas lembranças e novos conceitos, que tal? Novas conversas com os falecidos. Reinventar, aliás, é umas dessas palavrinhas que andam na moda, tipo volátil, ficar, revitalizar, customizar, reengenharia, repaginar e outros res. Os velórios não têm mais velas, comida, bebida e as famosas piadas de velório e cenas mais apimentadas e/ou pitorescas andam, infelizmente, escassas.

As pessoas ficam consultando o relógio, os celulares tocam e fica muita gente falando alto, sobre tudo quanto é assunto, perto do defunto, que não pode se manifestar, pedir silêncio e descansar direito. Bom, isso de dizer que o ente querido descansou ainda se usa, quando é o caso. Falar lugar-comum segue confortável.

Pois, pensando bem, talvez nossa melhor homenagem para os saudosos que estão em outras dimensões seja pensar neles com carinho, celebrar a vida, o tempo e o mundo, que não param.

Se a gente pensa demais neles, eles nos chamam antes da hora. Melhor não. Como diz a canção italiana já clássica Il mondo, de Jimmy Fontana, o velho mundo segue girando no espaço infinito, com amores recém-nascidos e mortos, com alegrias e dores, com a noite seguindo o dia e com o dia sempre vindo. Não vou me despedir como certas pessoas, em certas cidades italianas, desejando uma boa morte. Menos, não é?

Me despeço desejando feliz e vivo Dia de Finados, mesmo lembrando que tristeza não tem fim, felicidade, sim, e que a vida tem sempre razão, mesmo quando ela se vai, levando gente querida.
Jaime Cimenti

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