Jaime
Cimenti
Reinvenção de vivos e
finados
Finados,
mortes. Seria melhor nem precisar tocar nesses assuntos, nem no Dia de Finados,
como, aliás, muita gente esperta, moderna e ocupada demais com tantas outras
coisas já está fazendo. Esses negócios de luto, roupas pretas, sentimento de
morte, pompas fúnebres e tal ficaram meio para trás nesses tempos apressados.
A
galera, de repente, está mais interessada no feriado, em outros lances mais
vivos e elabora o luto rapidinho. Se a única certeza com relação ao futuro é o
tal encontro com a moura torta, talvez o melhor seja ficar assobiando no
escuro, disfarçando o medo e pensando em assuntos mais amenos.
Mas
a memória e o pensamento são inevitáveis como o olfato e, neles, as coisas
acontecem muitas vezes. E as pessoas não perderam a mania chata de morrer e
convidar para funerais. Fazer o quê?
Nesses tempos em que a gente tenta se reinventar, como diz o outro, que
tal também reinventar as memórias, a morte e os que já estão no andar de cima?
Ao
menos isso, não é? Novas visões, novas lembranças e novos conceitos, que tal?
Novas conversas com os falecidos. Reinventar, aliás, é umas dessas palavrinhas
que andam na moda, tipo volátil, ficar, revitalizar, customizar, reengenharia,
repaginar e outros res. Os velórios não têm mais velas, comida, bebida e as
famosas piadas de velório e cenas mais apimentadas e/ou pitorescas andam,
infelizmente, escassas.
As
pessoas ficam consultando o relógio, os celulares tocam e fica muita gente
falando alto, sobre tudo quanto é assunto, perto do defunto, que não pode se
manifestar, pedir silêncio e descansar direito. Bom, isso de dizer que o ente
querido descansou ainda se usa, quando é o caso. Falar lugar-comum segue
confortável.
Pois,
pensando bem, talvez nossa melhor homenagem para os saudosos que estão em
outras dimensões seja pensar neles com carinho, celebrar a vida, o tempo e o
mundo, que não param.
Se a
gente pensa demais neles, eles nos chamam antes da hora. Melhor não. Como diz a
canção italiana já clássica Il mondo, de Jimmy Fontana, o velho mundo segue
girando no espaço infinito, com amores recém-nascidos e mortos, com alegrias e
dores, com a noite seguindo o dia e com o dia sempre vindo. Não vou me despedir
como certas pessoas, em certas cidades italianas, desejando uma boa morte.
Menos, não é?
Me
despeço desejando feliz e vivo Dia de Finados, mesmo lembrando que tristeza não
tem fim, felicidade, sim, e que a vida tem sempre razão, mesmo quando ela se
vai, levando gente querida.
Jaime
Cimenti
Nenhum comentário:
Postar um comentário