03
de novembro de 2012 | N° 17242
CLÁUDIA
LAITANO
Aproveite a Feira do Livro para...
1)
Degustar as mercadorias
Nada
de método ou cálculo na hora de comprar livros – reserve seu bom senso para as
compras pela internet. Na Feira do Livro, o que conta é o impulso, o amor à primeira
vista, o prazer tátil de bagunçar o mostruário, revirar balaios, espiar as
escolhas da senhora simpática que fica na ponta dos pés para alcançar os livros
de literatura erótica do outro lado do balcão.
Na
feirinha do Bom Fim, você pede uma prova e sai carregado de frutas que nem
pensava em levar. Na Feira do Livro, é mais ou menos a mesma coisa. (Com uma
diferença: em geral, quanto mais se experimenta, mais aumenta o apetite.) Ali
também é possível manusear sem culpa as mercadorias mais apetitosas. Na dúvida,
demore-se um pouco mais na degustação.
Leia
o primeiro parágrafo e depois pule para a página 52 e leia a quinta linha. Faça
isso várias vezes, com vários livros diferentes.
Não
tem erro: o livro que você não conseguiu esquecer é o que vale a pena levar
para casa.
2)
Namorar o ambiente
Sim,
namorar – mesmo os bem casados, os bem apaixonados, os bem comportados. Namorar,
aqui, é um estado de espírito e não um estado civil. É estar alerta ao que
acontece em volta, como se não houvesse amanhã ou caixa de e-mails para
esvaziar. É oferecer a conversa e a gentileza de cidade do Interior para o
eventual vizinho de balcão.
É a
disposição para caminhar sem rumo, indo e voltando várias vezes nas mesmas
alamedas, sabendo que os estandes podem ser os mesmos, mas as pessoas mudam o
tempo todo.
A
Feira do Livro é um lugar para jogar conversa fora, para ver e ser visto, para
encontrar velhos amigos e não ter medo de conversar com estranhos. Como o
Facebook, só que com abraço e aperto de mão.
3)
Viajar no tempo
A
Praça da Alfândega nasceu com a cidade, no século 18, com o nome de Largo da
Quitanda – uma área despojada como costumam ser os caminhos por onde circulam
viajantes e mercadorias. No início do século 20, audaciosos ares de beleza
sopraram às margens do Guaíba, concedendo ao espaço a graça dos jardins e o
fausto das árvores floridas. Nos anos 70, mais ou menos na época em que minha mãe
me levava ali para brincar, o vento da feiura, mais implacável do que o
Minuano, descaracterizou os caminhos jeitosos, instalou um horrendo banheiro público
e deixou as árvores crescerem sem juízo.
Com
o restauro concluído agora, a Praça se apronta para o futuro ficando mais
parecida com o que era há cem anos. Poucos lugares de Porto Alegre têm tanta
história para contar e são um cenário mais convidativo para sentar num banco
pensando na vida – como ela seria no tempo do Largo da Quitanda e como será quando
2012 for apenas uma data remota em um livro de história que ainda não foi
escrito.
PS: além
de tudo isso, vou aproveitar a Feira do Livro para conhecer os meus leitores. Domingo,
às 19h, no Pavilhão de Autógrafos, autografo Meus Livros, Meus Filmes e Tudo
Mais. Apareçam por lá.
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