02
de novembro de 2012 | N° 17241
PAULO
SANT’ANA
Escrever é um
risco
Eu,
que já trabalho há 41 anos escrevendo em jornal, casualmente sem nunca tirar
férias, embora escreva 30 ou 31 dias por mês, tenho experiência bastante para
entender que muitas vezes um elogio que se faça na coluna é mais perigoso que
uma crítica.
Também
fruto da minha experiência, há críticas que a gente faz que são consideradas
cruéis contra os criticados, embora verdadeiras.
Um
exemplo, entre tantos: se você escrever que determinado jogador de futebol não
joga nada ou não podia nem jogar na várzea, muita gente considera que isso é
uma maldade com o jogador, embora passado algum tempo todos vão notar que esse
jogador realmente não joga nada e não podia nem jogar na várzea.
O
que eu queria dizer em resumo – e talvez não esteja sabendo dizê-lo – é que é
muito arriscado e perigoso tanto elogiar quanto criticar alguém.
O
fato é que, em última análise, é muito perigoso escrever, simplesmente. Basta
que alguém que tenha firme opinião escreva alguma coisa para ser contrariado
por muita gente.
Recentemente
dei, sob certo aspecto, um exemplo disso: eu tenho sido tão insistente na minha
opinião, há 41 anos, de que os presos gaúchos têm o direito de ser bem
tratados, de morar em celas dignas, de ser medicados quando estiverem doentes
nos presídios, que não podem continuar a ser assassinados nas prisões, que
acabei recebendo cerca de 40 e-mails de leitores afirmando que estou
redondamente enganado, que os presos devem ser maltratados e que até “morrem
muito poucos presos assassinados e doentes, que tinham que morrer muitos mais”.
Chegaram
ao ponto, esses meus discordantes, de achar que ao defender bons tratos aos
presos e segurança nas cadeias para não virem a ser assassinados, que esses
meus cuidados e essas minhas preocupações eu tinha de ter com as vítimas dos
presos, o que nunca viram eu fazer.
É
arriscado escrever, mesmo quando a gente elogia alguém ou então defende os
mínimos direitos humanos de alguém, basta que este alguém tenha um dia errado.
E, se errou, tem de sofrer ou tem de morrer.
Basta
que surja um excêntrico jornalista que pregue apenas que as prisões não se
tornem nem masmorras, nem campos de concentração, nem locais de execução
sumária, para que sobre ele se derrubem todas as maldições e contrariedades.
Eu,
por exemplo, acho que as ruas estão cheias de bandidos e que as prisões estão
também repletas deles, mas que também tem muita gente que assiste a esse drama
ou é vítima dele que contém em seus corações maldades análogas às desses
bandidos.
E
que age e pensa com crueldade não por querer apenas vingar-se dos bandidos, mas
porque guarda dentro de si crueldades equivalentes às empregadas por esses
criminosos, perversidades essas que se travestem não raro de revolta contra o
crime.
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