04
de abril de 2015 | N° 18122
DAVID
COIMBRA
O homem bom
Esse
novo ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro. Ele parece ser um homem bom.
É o
melhor elogio que posso dar a uma pessoa.
Está
certo: só o conheço por ter lido algumas coisas que escreveu e por ter visto
três ou quatro entrevistas que deu. É pouco. Mas não estou afirmando que seja
um bom homem, estou dizendo que se parece com um.
O
que faz de um ser humano uma boa pessoa?
Uma
característica, entre todas as demais: a compaixão.
A
honestidade, predicado sobre o qual tanto debatemos nos últimos tempos, não
torna um homem necessariamente bom. É claro que uma pessoa em essência
desonesta faz mal às outras pessoas, e isso a arrasta para os limites da
maldade, mas, muitas vezes, tolerar um pequeno deslize não é tolerar a
desonestidade: é humanidade. Porque, falando em essência, a essência da
humanidade é o erro.
A
chamada “consciência social”, outro premente tema brasileiro, também não faz de
uma pessoa boa pessoa. Em geral, tem efeito contrário. A pessoa com consciência
social passa a dividir os seres humanos em opressores e oprimidos. São dois
lados em guerra, os amigos aqui e os inimigos lá. E o inimigo, você sabe, tem
de ser destruído. Não é por acaso que se diz que o homem com consciência social
está em luta. E quem está em luta, luta contra alguém. Alguém que tem de ser
vencido. Alguém de quem se quer... o mal.
Esse
é, de longe, o maior defeito das pessoas que se dizem “de esquerda”. Um homem
de esquerda deveria ser generoso, porque ele defende, antes de tudo, a
igualdade. Só que ele, em sua ânsia de justiça, se transforma primeiro em juiz,
depois em justiceiro. Ele identifica o inimigo, rotula-o como tal e em seguida
o ataca. Ele perdeu a compaixão, porque não existe compaixão seletiva.
Vou
dar um triste exemplo: na véspera do feriado, morreu o filho do governador
Alckmin, em um acidente de helicóptero. No mesmo dia, morreu o filho de uma
moradora do Complexo do Alemão, durante uma ação da polícia. Pois li, nas redes
sociais, um comentário de uma pessoa de esquerda comparando as duas mortes e
criticando quem só lamentou a do filho do governador, e não a do filho da favelada.
Não
vou revelar o nome da pessoa que fez o comentário, até porque não a acho má
pessoa. Acho que ela está confusa. Em sua visão de mundo binária, ela não
percebe que cada pessoa se comove com o que lhe diz respeito e que a dor não
tem classe social. A dor, como o erro, é da essência do ser humano.
O
novo ministro da Educação é de esquerda, mas não parece ter adquirido o defeito
da maioria dos esquerdistas. Não parece estar em cima de um púlpito, de onde
julga o próximo. Todas as vezes em que o vi se pronunciar, ele demonstrou essa
qualidade fundamental para fazer de um homem o melhor que um homem pode ser: a
compaixão. Espero que use esse predicado no cargo. Que entenda que é preciso
subverter os critérios da Educação no Brasil. Que a prioridade tem de ser a
criança. As crianças do Brasil não precisam de ideologia. Precisam de
compaixão.
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