sábado, 1 de março de 2014


02 de março de 2014 | N° 17720 VERISSIMO
As aventuras da família Brasil

O fim

Deus reuniu seu staff e anunciou: o mundo vai acabar.

Todos se entreolharam. Como, acabar?

– Acabar – disse Deus. – Não vai ter mais. Ponto final. The end. Finito.

– Mas Senhor... – começou a dizer um dos assessores.

– Cansei – interrompeu–o Deus. – No princípio ainda foi divertido. A fase da criação. O dia. A noite. Os bichos. Tudo era novo. Tudo era a primeira vez. E eu era mais jovem, tinha o entusiasmo e o otimismo dos jovens. Agora não tenho mais saco. E a humanidade me decepcionou. Ela não é nada do que eu tinha planejado Desperdicei meus melhores efeitos numa humanidade que nunca soube apreciar minha obra. Muitos até duvidam que ela seja minha.

Todos haviam reparado que Deus andava mesmo meio irritadiço. Manifestava sua irritação com o tempo, com os excessos de calor num hemisfério e de frio no outro, com furacões fora de hora, com secas inclementes e enchentes catastróficas. Acordava de manhã e a primeira coisa que pedia, antes do iogurte, era “Um cataclismo, rápido! Não importa onde”.

– Como será o fim, Senhor?

– Com um estrondo. Pum, e fim. Eles não vivem falando no tal Big Bang, que teria siso o começo de tudo, e não Eu? Pois agora eles vão ver um Big Bang.

– Senhor, quem sabe outro dilúvio? Assim o Senhor se livraria da humanidade mas preservaria os bichos, e poderia começar tudo de novo...

– Nah... – disse Deus. – Já posso ver o que correria de propina na disputa para construir outra arca. Com Noé foi assim. Pensei que era um homem honrado, e foi outra decepção. Ou alguém não sabe que depois do dilúvio ele abriu uma conta numa off–shore com o dinheiro que ganhou da empreiteira? Nada de arca. Vai ser pum, e pronto.

– Mas Senhor, tem que haver algum tipo de solenidade no fim do mundo...

– Como o quê, por exemplo?

– Um espetáculo. Afinal, se tratará de uma apoteose. Da última apoteose. O que o Senhor acha?

– Hmmmm. Desde que não tenha mímica. Eu odeio mímica.

– Seria um espetáculo musical. Uma sinfonia final, acompanhada de fogos de artifício, mil músicos, um balé com mil bailarinas... E, claro, o Cirque du Soleil. Encomendaríamos a sinfonia de um dos nossos compositores.

– Quem é que nós temos?

– É só escolher! Temos Mozart, temos Beethoven... Imagine uma Sinfonia do Fim do Mundo escrita pelo Beethoven!

– Ele toparia?

– Por que não? Não está fazendo nada. E se ele não topar, temos o Wagner!

– Wagner não foi pro inferno?

– Poderíamos propor um empréstimo.

– Wagner não. Tem a questão do antissemitismo. Pegaria mal com a turma do Jeovah, com quem Eu tenho um bom relacionamento.

– Que tal Mahler?

– Mahler! Claro! Sempre me perguntei por que Eu tinha criado o Mahler, e agora Eu sei. Vai ser Mahler!

– Ótimo!


– Mas nada de mímica.

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