VINICIUS
TORRES FREIRE
"Não vai ter
Copa"
Manifestações
marcadas para começar no dia 25 podem embaralhar previsões para este 2014
"NÃO
VAI TER COPA" é o mote de protestos marcados para o dia 25 de janeiro, em
todas as capitais, ou pelo menos nas "capitais da Copa". Seria um
ensaio da reestreia dos protestos, iniciativa de alguns daqueles grupos que
desencadearam as manifestações de 2013.
Como
tais grupos são desarticulados e dispersos, é difícil saber o que articulam.
Muito menos é possível saber se vai haver repeteco da articulação esdrúxula,
acidental e mesmo indesejada entre pequenos grupos de esquerda e massas
indignadas mas apolíticas, o grosso de quem foi às ruas.
A
Copa é, óbvio, um prato cheio de desperdício, politicagem autoritária,
incompetência e outros acintes. A depender do gosto do freguês manifestante,
não vai ser difícil contrastar essa despesa perdulária e arbitrária com algum
motivo de revolta com a selvageria social e a inércia política brasileiras.
Vai
colar? O 25 de janeiro pode ser um fiasco, ao menos em termos midiáticos, pois
os ponta de lança da onda inicial de junho, os estudantes, ainda estarão de
férias. Mas não convém especular com hipóteses fáceis.
Junho
de 2013 não apenas começou como se desenvolveu e terminou de modo imprevisto,
com ondas de choque se espraiando em direções diversas, um miniBig Bang
político-social.
Houve
os notórios, midiáticos e então subitamente submersos Black Blocs, mas muito
mais. Houve revoltas contra a violência polícial em bairros paulistanos de
"classe média baixa", um dia bastiões de voto conservador. Houve
séries de protestos de associações de gente deserdada da periferia, a bloquear
estradas e avenidas nos fundões da cidade. Não há como saber se mesmo um 25 de
janeiro fraco vai reanimar brasas dormidas ou revelar novas organizações.
Pode
haver fastio: muita gente pode ter se desencantado com a inconsequência prática
dos protestos; de resto, revolução permanente não é o estado habitual de gente
alguma, exceto em cataclismos históricos raros, seculares. A tentativa de
repeteco de 2013 pode, assim, não colar.
Pode
haver oportunismos: as manifestações fizeram estrago sério no prestígio de
governos. O tumulto nas ruas pode ser obviamente um instrumento para avariar,
ao menos, o prestígio de quem quer que esteja no poder, mas de petistas em
especial. Repetir 2013 pode ser arma eleitoral.
O leitor,
que é perspicaz, pode refutar tudo isso com um "especulativo,
protesto", como se diz em filme de tribunal americano. Mas há de concordar
que são demasiadamente ricas para não serem exploradas as oportunidades
políticas e politiqueiras de um ano de Copa com eleição e eventual tumulto de
rua transmitido pelo mundo inteiro.
Enfim,
o caldo socioeconômico pode estar mais azedo e contribuir para os protestos; ou
os protestos podem azedar o caldo.
A
tendência básica do ano é de tudo crescendo mais devagar ou na mesma: renda,
emprego, consumo, inflação. Há riscos de tumultos no câmbio, de o Congresso
aprovar coisas como renegociação de dívidas de Estados e municípios ou de o
Supremo dar uma tunda nos bancos no caso dos reajustes das poupanças dos planos
econômicos velhos. Tudo isso intoxicaria o ambiente econômico e, assim, ânimos
políticos, ao menos entre as elites.
vinit@uol.com.br
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