Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sábado, 2 de julho de 2011
03 de julho de 2011 | N° 16748
MARTHA MEDEIROS
Os seguidores
O Twitter fundou uma nova tribo e agora qualquer um pode ter seu rebanho, ser um pastor
Estava no aeroporto, outro dia, conversando com um ator e um blogueiro. Um deles se virou para o outro e perguntou: Quantos seguidores você tem?. A resposta: Novecentos, e você?. Resposta: Um pouco menos, uns 650 mil.
Músicos têm ouvintes, atores têm plateia, escritores têm leitores, mas pelo visto isso já não diz muita coisa, não há tanto mérito, é uma relação quase passiva. Bem-sucedido, mesmo, é quem tem seguidores, ao menos é o que dizia o slogan de um produto anunciado em comercial de tevê recentemente, e nem era anúncio de equipamento eletrônico.
Não lembro o produto, mas lembro da promessa: “Você com cada vez mais seguidores”. Que blusa eu uso, em que loja compro, que shopping devo frequentar para ter tantos seguidores assim? A ambição, agora, é ser messiânico.
Jesus tinha seguidores, assim como Renato Russo. Mas agora qualquer um pode ter seu rebanho, ser um pastor. O Twitter fundou uma nova tribo. Soube que Caio Fernando Abreu, falecido há mais de 10 anos, tem hoje 60 mil seguidores. E seus leitores? Já não estão com esse cartaz todo.
É apenas uma questão de semântica, claro. Renovam-se as palavras para perpetuar a sensação de modernidade, de atualização, mas, no fundo, é tudo a mesma coisa. Só que não se pode negligenciar o sentido do termo: a palavra seguidor sugere um refém intelectual, enquanto que o leitor pensa, reflete, concorda, discorda. O seguidor não se dá esse trabalho. Apenas xereta.
Eu sei que é apenas uma expressão, eu sei, eu sei, mas acho estranho, fazer o quê. Já me perguntaram: quantos seguidores tu tens? Ora, nem às minhas filhas desejo tal destino. Se eu tivesse um caminhão, escreveria no para-choque: “Não sigam ninguém, que estão todos perdidos também”.
É só um termo atual para definir a prática inofensiva de twittar, mas não sei se é mesmo tão banal, tão sem significado. Os equipamentos eletrônicos hoje já dispensam o plugue na tomada, mas seus usuários, em efeito contrário, estão criando uma corrente de interligação que despreza a privacidade e a introspecção. O pensamento alheio virou uma espécie de asilo. Livro serve pra isso também, mas é uma relação a dois: você que lê e o escritor que lhe inspira.
Há uma certa sacralidade nesse encontro. Algo de muito pessoal é preservado. Aquilo que lhe emocionou, que iluminou seu pensamento e que despertou seu raciocínio é exclusivo, secreto: uma relação obviamente mais romântica. Por mais popular que seja um escritor, ele é consumido no particular. Mas se ele tem 564.238 seguidores conectados ao mesmo tempo, puf, evapora-se o mistério.
Todos viraram gurus uns dos outros. Me siga que eu te sigo. Mas para onde?
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