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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
ELIANE CANTANHÊDE
O enterro da nova CPMF?
BRASÍLIA - Pronto, está feito. Em votação supersônica, deputados e senadores aumentaram os salários de deputados e senadores em 62%. De quebra, deram 134% a mais para o presidente e o vice e 149% para os ministros do Executivo.
Apesar da óbvia gritaria da opinião pública nos próximos dias, era preciso mesmo equiparar os salários dessa gente toda com a realidade. Não faz sentido os ministros ganharem R$ 10,7 mil, o presidente, R$ 11,4 mil, nem os parlamentares, R$ 16,5 mil, como é hoje.
Esses salários irreais, fictícios -e sem reajuste há três anos-, têm sido geradores de "jeitinhos" e "verbas especiais" que são fonte permanente de escândalos.
Mas há dois problemas na decisão de ontem. Um: por que o Congresso demora oito anos para discutir uma lei sobre transplante de órgãos e dias para se autoconceder aumentos salariais? Outro: se os congressistas passam a ter uma remuneração decente, vão acabar com os penduricalhos que levam o valor básico à estratosfera?
É um tal de 14º, 15º salário, jeton para sessões extraordinárias, auxílio-moradia, passagens, correspondência, carros... Sem contar saúde de graça e plano de aposentadoria, apesar dos mandatos de quatro anos para deputado e de oito para senador.
É evidente que o aumento veio, mas os penduricalhos não vão embora. E o pior é a vinculação dos salários das Câmaras e das Assembleias aos do Congresso, causando um frisson e um efeito cascata nos Legislativos do país inteiro -enquanto Executivo, Judiciário e os próprios funcionários do Congresso também querem a sua parte.
Tudo isso, evidentemente, contraria o discurso de ajuste fiscal do futuro governo e enterra -ou deveria enterrar- o debate da volta da CPMF. Aumentar o salário público e garfar mais o privado fica esquisito. Vai ter troco.
PS - E o "mensalão"? O gato comeu, e Lula apagou da história.
elianec@uol.com.br
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