sábado, 18 de dezembro de 2010



18 de dezembro de 2010 | N° 16553
NILSON SOUZA


Num piscar de olhos

Frequentadora assídua e involuntária deste comentário semanal, a Menina dos Meus Olhos acaba de virar um ciclo de sua vida – a passagem do Ensino Médio para a universidade. Está com 17 anos. Num piscar de olhos, a garotinha que queria sempre ser a primeira da fila pelo privilégio de pegar a mão da professora salta da infância para o mundo adulto em busca de uma profissão, de um lugar ao sol no mercado de trabalho e de seu próprio destino.

O coração aperta, sinto a areia escorrer entre os dedos, mas sei muito bem que é hora de soltar as amarras do afeto para que o barco da individualidade encontre seu rumo.

Durante os 11 anos de sua vida escolar, que acompanhei com atenção e curiosidade, procurei compartilhar com os leitores muitas de suas descobertas, sempre mantendo-a no anonimato do apelido carinhoso. Fi-lo, como diria aquele ilustre gramático, por intuir que cada leitor e cada leitora têm os seus meninos e as suas meninas dos olhos, as crianças que amamos incondicionalmente porque são a luz da nossa existência.

Sempre com o cuidado de preservar sua identidade e sua intimidade, relatei aqui algumas aventuras e desventuras dessa viagem coletiva chamada adolescência. Pelos retornos que recebi, tenho certeza de que muita gente pegou carona nos meus relatos. Uma leitora amiga e querida, inclusive, já me sugeriu que transforme em livro a passagem da Menina dos Meus Olhos por estas crônicas. Nunca tive tal pretensão, mas, por cortesia, prometi pensar no assunto.

Meu propósito sempre foi mais singelo: capturar retalhos do cotidiano da menina que vi crescer e costurá-los em textos que desafiem outras pessoas a prestar atenção nas infâncias e adolescências que as cercam.

Estou convencido de que os habitantes destes mundos de dúvidas e encantos têm muito a nos ensinar, porque são criativos, espontâneos, alegres, sinceros e carinhosos – embora, às vezes, também possam ser carentes e inseguros. Não é incomum que corram para a frente da fila apenas porque querem segurar a nossa mão.

A Menina dos Meus Olhos deixou a escola para trás, também ela com a alma dolorida por se separar de amigos e professores com quem dividiu mais da metade de sua vida. Com eles, tenho certeza, aprendeu lições importantes para encarar o futuro. Mas a principal, a que mais me gratifica e me dá certeza de que tudo valeu a pena, é exatamente a valorização de suas amizades e de seus afetos. Se ela aprendeu a amar como é amada, tenho certeza de que nada lhe faltará.

Boa sorte, Daniele.

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