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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
22 de dezembro de 2010 | N° 16557
DIANA CORSO
Provas e provações
Para mim já acabou, como criança que fui e até como mãe, mas doeu nas duas pontas. São as incertezas do fim do ano escolar, o medo de não passar, o pânico do vexame de rodar, da opinião do professor, a necessidade de provar o que não temos certeza se sabemos ou se, caso saibamos, conseguiremos demonstrar.
Todas as professoras de matemática que tive foram uma provação, sua matéria continua até hoje insondável para mim. Uma delas, recentemente encontrou minha mãe na rua e, ao ser informada de que eu não havia fracassado na vida, não pôde conter sua surpresa: “Então ela deu em alguma coisa!”.
Como se vê, não fui aluna muito promissora nesse quesito. Assim como ocorreu comigo, creio haver muitos alunos que não são eficientes em todas as áreas, que encontram dificuldades em exatas ou humanas, ou mesmo são atrapalhados para adaptar-se à sala de aula, sendo agitados ou sonhadores. Por vezes, há algum problema com o aluno, mas sem dúvida quando se trata de aprender não cabemos todos na mesma fôrma.
Para que alguém possa aprender, é preciso que haja algum espaço para a curiosidade, que as dúvidas não sejam atestado de ignorância, que o envolvimento do docente seja visível.
Se não for assim, a única coisa que estará sendo testada nas provas é a obediência, a capacidade de disponibilizar o cérebro para ser preenchido pelo pretensamente sábio superior hierárquico. Dar-se bem, neste caso, prova que o aluno não se opõe a ser influenciado e formado/formatado pelo seu mestre.
Com muita frequência, graças à competência dos professores e escolas isso tudo funciona. Porém, por vezes, crianças e jovens se fecham frente aos ensinamentos dos pais ou professores para proteger-se de uma invasão imaginária, ou talvez porque haja outro assunto relevante que precise ser digerido.
Também ocorre que sua natureza possa pender radicalmente para outra forma de aprendizagem, que um campo de saber lhe seja mais permeável, enquanto o outro é hostil e estrangeiro. Cada professor prefere um tipo de aluno e vice-versa, o resto é desencontro.
Ignorando tudo isso, certos mestres se regozijam com a autoridade de que gozam, intimidando seus alunos, principalmente aqueles com maiores dificuldades. Infelizmente conheci alguns desses.
É uma covarde glória do forte sobre o fraco, que no final do ano vive sua apoteose de poder. Felizmente esses são poucos, e graças a isso, no fim das contas, acabei não dando tão errado assim, apesar de nos meus pesadelos os carrascos da SS terem a cara de certas professoras de matemática.
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