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terça-feira, 28 de dezembro de 2010
28 de dezembro de 2010 | N° 16563
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA
Como um romance
Às duas e meia da tarde de 24 de setembro de 1834 morreu um homem jovem em Lisboa. A autópsia revelou que a tuberculose tinha consumido quase todo o seu pulmão esquerdo. O coração e o fígado estavam hipertrofiados, os rins e o baço não gozavam de melhor saúde.
Esse homem tinha 35 anos e era D. Pedro I, Imperador do Brasil e Rei de Portugal, e acabava de vencer uma sangrenta guerra civil contra D. Miguel, seu irmão, absolutista, enquanto ele era liberal.
Esse é apenas um fragmento do livro 1822, de Laurentino Gomes, que há semanas lidera as listas dos best-sellers e promete manter-se nelas por muito tempo mais. Trata-se de um biografia do criador do Brasil, mas lê-se como um romance, aliás como 1808, a obra anterior do autor.
Até certa altura do livro, o que se vê é um personagem mais preocupado em levantar saias e levar damas para a cama – a começar pela Marquesa de Santos – do que um estadista mais preocupado em construir uma nação.
Pouco a pouco, no entanto, o marido perpetuamente infiel de D. Leopoldina assume um caráter que se sobrepõe à sua época, candidatando-o a um lugar na História. É assim especialmente quando a trajetória de sua vida se confunde com a do Império que fundou.
Foi graças em grande parte devido a ele que o Brasil se manteve íntegro – um território, um povo, uma língua –, enquanto seus vizinhos latino-americanos se decompunham em dezenas de repúblicas.
Foi assim quando soube tratar as lutas internas com isenção e sabedoria. Foi ainda assim quando entregou a guarda de seus filhos a José Bonifácio. A propósito: o capítulo que trata de sua correspondência com o futuro D. Pedro II é, no mínimo, comovedor.
O excelente Laurentino Gomes acena com um próximo volume – 1889.
A História deste país é grande demais para ficar entregue aos arquivos e fichários.
Lindo dia para você. Aproveite a terça-feira.
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