sexta-feira, 17 de dezembro de 2010



WikiLeaks, internet, terra de ninguém, Repórter Esso e dona Semíramis

No meu tempo de guri, início da segunda metade do século passado, na eternamente florescente Bento Gonçalves, a dona Semíramis ficava de prontidão na janela horas e horas, enquanto tomava vários chimarrões. Ela sabia de tudo e de todos.

Quando ela passava pela frente de nossa casa, dizíamos: atenção! atenção! vai falar o Repórter Esso, atenção!!! O Esso era o noticioso da TV que também sabia de tudo e de todos. Dona Semíramis foi a tataravó do Assange, o cara do WikiLeaks que botou na internet segredos de Estado.

Para saber se algo era verdade, naqueles tempos, tinha de ler o Correio do Povo. A internet virou terra de ninguém há horas. A privacidade acabou e está todo mundo falando tudo a toda hora em todo lugar. Os hacktivistas estão a mil e não adianta nem você ficar de fora da internet.

Ainda assim periga eles colocarem teus segredos bons e ruins na rede. Guerra digital! Hoje o cara não pode contar segredo nem mais para ele mesmo, que ele mesmo revela. Barriga fria geral. Todo mundo sabe de tudo, a toda hora. Aquela história de que segredo de dois só matando um dançou. Está tudo vazando. Faz tempo que ninguém chega para mim e diz: vou te contar um segredo.

Aliás, por falar em segredo, hoje nem mais a vida sexual dos cândidos ursos panda é segredo. Escarafuncharam para saber por que os coitadinhos estavam em extinção. Descobriram, entre outras coisas, que os machos têm pênis de tamanho diminuto, que as fêmeas tem cio de apenas 72 horas e que são realmente férteis por um período de 12 a 24 horas. Descobriram que os pandas não são muito chegados no lance do sexo.

Que coisa! Aí estão dando uma mão para eles, facilitando sexo em cativeiro, dando aula de educação e tal. Sou do tempo em que sobre vida sexual íntima e honorários profissionais você podia mentir à vontade.

Hoje a Receita Federal e a internet acabam com tuas mentiras. Bem, mas os antigos colunistas sociais já diziam que “em sociedade tudo se sabe”. Só que eles eram espertos e ficavam quietos, até para manter as boquinhas-livres boas que tinham.

Falavam à boca pequena. Pois é, não tenho nenhum segredo meu ou de outros para colocar nesta modesta crônica. Melhor eu ir vazando, como diz a gurizada esperta aí. Melhor eu não contar meus segredos para mim, que sou boca frouxa e, ainda por cima, metido com jornais e jornalistas.

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