segunda-feira, 13 de dezembro de 2010



13 de dezembro de 2010 | N° 16548
PAULO SANT’ANA


O fingimento

Por trás de agressivas arrogâncias se escondem muitas vezes constrangidas timidezes.

Assim como por trás de indômitas coragens escondem-se muitas vezes vergonhosas covardias.

E tem também o caso de que por trás de ostensivas fortunas escondem-se tenebrosas dívidas.

Mas eu, particularmente, confesso que nunca vi o caso de o sujeito ser rico e fingir que é pobre. Vocês, meus leitores, podem já ter visto. Eu não vi.

O que é muito frequente é o contrário: é o pobre que ostenta no agir a condição de rico.

Todos esses exemplos que dei acima caracterizam formalmente uma conduta humana muito própria da espécie: o fingimento.

O fingimento é uma esperteza humana que se mostra através de uma máscara: a pessoa parece ser o que não é.

O momento mais alto do fingimento se dá com algumas mulheres, que fingem ter orgasmo para agradar ao parceiro. Há algumas mulheres, dizem os compêndios que se ocupam com o sexo, que nunca tiveram orgasmo, mas levam à frente o casamento fingindo que o têm.

Eu não estou falando mal das mulheres ao não incluir os homens nesse tipo de fingimento: é que o homem fica impedido de fingir orgasmo pelo fato de que tem a ejaculação inseparável do orgasmo.

Por isso, o homem foi impedido pela natureza de fingir orgasmo.

Os humanos são capazes de fingir alegria e sofrimento. Por exemplo, muita gente que é recusada pelas emergências de nossos hospitais abarrotados se entrega ao expediente de fingir sofrimento com o fim de ser acolhido pelo hospital.

E o cúmulo de fingir alegria é fingir o orgasmo.

Deixo de me ocupar com as mulheres sinceras porque elas são a maioria e sempre tive fascínio pelos direitos das minorias, daí por que defendo o direito da mulher em fingir o orgasmo.

Quando uma mulher se casa com um homem, ela vê implícita nessa união a obrigação de fazer sexo com o marido. Há muitas que fazem sexo com o marido por prazer, mas também há muitas que o fazem sem ter prazer.

O recurso das que são obrigadas a fazer sexo sem prazer é fingir que têm prazer.

Uma vez, escrevi nesta coluna que gosto mais da mulher fingida do que da mulher sincera. É que a mulher fingida me deixa mais seguro de mim, ela faz tudo para me agradar, enquanto a mulher sincera me choca com sua autenticidade, que pode ser desfavorável ao meu orgulho.

Quando uma mulher que está cansada de fingir no leito busca uma desculpa para não fazer sexo com seu parceiro, surge-lhe a ideia proverbial de alegar que está com dor de cabeça.

Ou seja, a dor de cabeça a impede de fingir no sexo. E para fugir daquele fingimento, a mulher adota outro fingimento menos cruciante: finge que está com dor de cabeça.

Nenhum comentário: