sexta-feira, 31 de dezembro de 2010



31/12/2010 e 01/01/2011 | N° 16566
DAVID COIMBRA


Prezada leitora

A presidente da República é minha leitora. Foi ela quem disse. Duas vezes. Antes de ser entrevistada no Painel RBS, meses atrás, estendeu-me a mão e falou:

– Gosto muito do que você escreve.

O pessoal em volta: – Óóó...

Terminado o programa, levantou-se e:

– Realmente, gosto do que você escreve.

– Óóóóóó...

Sei que candidatos dizem coisas para nos agradar, mas ela parecia sincera. Se foi, vou aproveitar para fazer-lhe um pedido. De quem escreve para quem lê. Ei-lo:

“Prezada leitora Dilma:

Já que a senhora me lê, suponho que conceda alguma importância para a minha opinião. Então, vou lhe dar uma opinião. Que não é só minha, já foi sua, não duvido que ainda seja. Ao menos era a do líder do seu antigo partido, Leonel Brizola, e de um homem que, sei, a senhora respeitava, Darcy Ribeiro.

É o seguinte: na sua gestão, que ora se inicia, não dê importância para os adultos. Eles não têm mais jeito. Dê importância para as crianças.

Uma ilustração tosca: li que o Brasil gastou R$ 2 bilhões no programa de alfabetização de adultos em 2010. Sabe quanto deveria ter sido gasto? Nada. Todo esse dinheiro tinha de ser aplicado na educação das crianças. Dinheiro posto no adulto é dinheiro desperdiçado.

O ProUni. As quotas nas universidades. A Bolsa Família. Tudo isso é bom; nada disso seria necessário, se houvesse investimento nas crianças. O Brasil não precisaria de novos presídios, se houvesse investimento nas crianças. A RBS não teria de fazer campanha contra o consumo do crack, se houvesse investimento nas crianças. A corrupção não seria tão voraz, se houvesse investimento nas crianças.

A senhora será uma presidente desenvolvimentista, sabe-se. A senhora foi a “mãe do PAC”. Seu antecessor, o já ex-presidente Lula, disse esperar que o Brasil se torne a quinta economia do mundo em cinco anos. Desenvolvimento é uma coisa boa, o país ter economia forte é uma coisa boa. Nenhuma coisa nem outra são as coisas mais importantes.

As coisas mais importantes não são coisas. São pessoas. Muitos dos países que não estão, nunca estiveram e jamais estarão entre as maiores economias do mundo são países melhores de se viver do que o Brasil. Escócia, Coreia do Sul, Bélgica, Suíça e tantos, tantos mais. Quase todos esses países investiram nas crianças, que se tornaram adultos dignos, que fizeram desses países lugares em que se vive com dignidade.

A senhora pode mudar de verdade o Brasil. Não uma mudança material, de fora para dentro. Uma mudança espiritual, de dentro para fora. Uma economia forte pode se tornar fraca, um país desenvolvido pode se tornar atrasado. Mas pessoas a quem se deu dignidade não perdem a dignidade. E a dignidade vem com a educação básica. Com o investimento nas crianças.

As crianças. Pense nas crianças.

Esse o meu pedido. Não deixe de me ler, presidente”.

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