Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
20 de dezembro de 2010 | N° 16555
LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL
Personagens
Escritores, por vezes, escolhem os títulos de seus livros a partir de critérios aleatórios. O verbo é bem esse: escolher; se há escolha é porque há várias opções. A um escritor, ente criativo, não se deve estranhar que tenha essas várias opções.
Há títulos que decorrem naturalmente da trama. O melhor exemplo é Mme. Bovary. A heroína tem o domínio da ação desde o início. É ela quem sofre, se exaspera, se desespera e, por fim, se suicida. O título lhe pertence.
Há livros, no entanto, em que o título vai para uma personagem coadjuvante, como é o caso do romance O Primo Basílio, de Eça de Queirós. Basílio não é nada, nem como personagem, nem como pessoa. É apenas instrumental. Sabe-se lá a razão, acaba por seduzir Luísa. A grande personagem, entretanto, é Juliana, a empregada doméstica. É odiosa, sim, é verdade, mas é inteira. Não podemos aceitar suas chantagens, seu mau caráter, mas é impossível negar sua pulsante existência. É nela que acreditamos, e não na frágil Luísa.
Outro caso de flagrante injustiça está em Don Quixote. Este livro ganha o título de seu protagonista, mas Don Quixote jamais transcende a figura que criou para si próprio. Alucinado, persegue seu sonho de cavaleiro andante, defensor das damas desvalidas, em especial de sua amada imortal, Dulcineia del Toboso. Já Sancho Pança é um ser volúvel, imprevisível. Com sua humanidade intrínseca, é ele que conduz a narrativa, por reconhecermos nela a nossa precária humanidade.
Sancho Pança, tal como Juliana, quer ascender na vida. Mas, enquanto Sancho Pança é a personagem “boa”, Juliana é a “má” – mas ambos não são inteiramente bons nem maus. São apenas humanos. Daí seu fascínio.
É curioso refletir sobre as razões que levaram seus autores a escolherem os títulos de suas consagradas obras. No caso de O Primo Basílio, é mais evidente a inadequação do título, que reduz o romance ao pífio Basílio.
Os leitores em geral não se apercebem dessas coisas, e têm como certo que o título não poderia ser outro. O escritor, porém é levado a escolher, num roteiro quase sempre dramático, mas nunca monótono.
É fácil dar o nome a uma criança.
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