sábado, 18 de dezembro de 2010



19 de dezembro de 2010 | N° 16554AlertaVoltar para a edição de hoje
PAULO SANT’ANA

Teresinha de Jesus

No meu tempo de criança, os pais da rua onde eu morava incentivavam as crianças a se entregarem às cantigas de roda.

Meninos davam as mãos às meninas, rodavam e cantavam letras e melodias que se incorporavam ao folclore popular, transmitidas através de gerações:

Se esta rua,

Se esta rua fosse minha

Eu mandava,

Eu mandava ladrilhar

Com pedrinhas,

Com pedrinhas

De brilhante

Para quando meu amor

Fosse passar.

Não sei sinceramente se as cantigas de roda e outros folguedos a que nos entregávamos não eram mais úteis à nossa formação do que esses computadores que são entregues hoje às crianças e aos adolescentes. Não sei. Tenho dúvidas.

Ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar, vamos dar a meia-volta, volta e meia vamos dar.

Vem cá, Bilu, vem cá, Bilu, vem cá, Bilu vem cá, não vou lá, não vou lá, não vou lá, tenho medo de apanhar.

Se eu fosse um peixinho, soubesse nadar, eu salvava a Suzete, lá no fundo do mar.

Essas canções imprimiam a nossos íntimos, à nossa personalidade, uma gama tal de recursos humanos e poéticos que nos muniam de armas poderosíssimas para enfrentar as angústias e depressões que nos assaltariam inevitavelmente em nossa vida adulta.

E noto que falta agora na criação e educação das nossas crianças e adolescentes a poesia. Os cânticos de turma e a poesia.

Não sei se as crianças de hoje, cercadas de computadores e da internet, estão mais aparelhadas do que as crianças que fomos antigamente, que éramos movidos a cantigas, a modinhas e poemas.

Antes de tudo, a revolução a que fomos submetidos foi urbana. Até nas grandes cidades, como Porto Alegre, éramos cercados por um bucolismo rural e florestal.

Hoje, as crianças e os adolescentes trombam permanentemente com o cimento, o asfalto, o trânsito brutalmente veloz ou engarrafado.

Havia mais paz, mais encantamento, mais poesia na vida infantil de antigamente.

As festas de fogueiras de São João de antigamente são agora impensáveis na brutalidade arquitetônica das cidades modernas.

Teresinha de Jesus/ deu-se a queda,/ foi ao chão,/ acudiram três cavalheiros/ todos os três chapéu na mão.

O primeiro foi seu pai/ o segundo seu irmão/ o terceiro foi aquele/ que lhe deu seu coração.

Chega a ser uma amazônica lástima que tenham extirpado da alma infantil para sempre a pureza angelical desse veio poético.

Nenhum comentário: