domingo, 12 de dezembro de 2010


DANUZA LEÃO

Vamos combinar?

Gostaríamos de saber por que a primeira entrevista da Dilma Rousseff foi dada a um jornal americano


EM TRÊS SEMANAS, Dilma toma posse. Até lá, quem manda, ela ou Lula?

A presidente eleita se pronunciou sobre a condenação de Sakineh, a iraniana condenada à morte, e a favor dos direitos humanos (só não ficou claro se essa posição vale para todos os países); posição diferente da de Lula, que afirmou que na época disse que não iria se intrometer nos negócios internos do Irã, pois isso seria uma "avacalhação".

Como pegou mal, ofereceu asilo político à iraniana -uma piada-, e depois da declaração de Dilma, ficou calado.

Parecia que Dilma começava a se libertar, mas o novo ministério é praticamente o mesmo, apenas as peças mudaram de lugar; soube-se que ela daria quatro ministérios ao PMDB, mas acabou dando cinco, como queria o partido.

O ministro Mantega declarou que ia desacelerar as obras do PAC, Lula disse que não acredita que Dilma corte um centavo dessas obras, das quais ela é a "mãe".

Alguma coisa está errada, e não ouso dizer que estamos à beira de uma "avacalhação" porque essa palavra não deve ser pronunciada em público nem escrita.

Aliás, todos gostaríamos de saber por que razão a primeira entrevista de Dilma foi dada a um jornal americano, e não à imprensa do país que a elegeu. Já pensou se Obama, logo depois de eleito, escolhesse falar apenas a um jornal, e brasileiro?

Dilma disse que escolheria um ministério fundamentalmente técnico e que nele as mulheres teriam muito espaço; não é o que está acontecendo. Até agora, o melhor que Dilma fez foi mudar o cabelo, que em vez de ser escovado em direção às estrelas e só se manter com a ajuda de muito laquê, está mais natural, pois nenhum cabelo cresce para cima. E vamos esperar pelo vestido da posse -vermelho, claro, como é de praxe no partido.

Se um finlandês chegasse ao Brasil, ficaria muito curioso para saber a razão de tanta pressão dos partidos por ministérios, sobretudo pelos com grande orçamento para fazer grandes obras, e perguntaria o por quê. Nunca ninguém fez essa pergunta a Michel Temer, por exemplo, porque toda a população brasileira está cansada de saber a resposta, e tão acostumada com isso que acha normal.

Esse finlandês teria dificuldade também para entender o costume brasileiro de dar cargos importantes aos políticos que não foram eleitos.

A senadora Ideli Salvatti, por exemplo, candidata derrotada ao governo de Santa Catarina, vai para o pitoresco Ministério da Pesca; tudo indica que Mercadante será ministro de Ciência e Tecnologia, e o ministro da Educação, Fernando Haddad, diz que para que o desempenho dos alunos brasileiros seja melhor, precisa de mais verbas. E agora?

As exibições finais de Lula nos estertores do seu mandato estão passando da conta, mas ainda vão piorar, como aliás já se sabia que ia ser; o "cacarejo", como bem definiu o WikiLeaks, está muito além da conta e a grande curiosidade é saber o que vai fazer Lula quando acordar, dia 2 de janeiro.
Podia bem ler um livro.

danuza.leao@uol.com.br

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