sexta-feira, 10 de dezembro de 2010



10 de dezembro de 2010 | N° 16545
PAULO SANT’ANA


Surdez e Libertadores

Conversávamos ontem, aqui na Redação, eu, o cirurgião e otorrino Sady Selaimen da Costa, o Nilson Souza, o Clóvis Malta e o diretor Ricardo Stefanelli.

Conversávamos uma ova, o Clóvis Malta não fala, ele só escuta.

Por sinal, a escuta é o tema da minha coluna.

Como estou usando um aparelho auditivo, ficamos sabendo pelo Dr. Sady que os problemas da surdez são mais profundos e complexos, mais importantes talvez do que os da cegueira.

Acontece que a surdez é um infortúnio muito maior. Representa a perda do estímulo mais vital – o som da voz –, que veicula a linguagem, agita os pensamentos e nos mantém na companhia intelectual dos homens.

Ficamos sabendo a respeito uma frase monumental da escritora Helen Keller: “A cegueira separa as pessoas das coisas, já a surdez separa as pessoas das outras pessoas”.

Fabuloso.

Conversamos mais de meia hora, quando o Dr. Sady deu-nos o nocaute sobre a comparação das desvantagens entre a cegueira e a surdez: disse ele que, se fosse cego, não teria perdido nada da nossa conversa longa, enquanto que, se fosse surdo, a conversa teria sido inviável para ele e para nós.

É que eu ontem tinha ido a uma mesa de debates entre fonoaudiólogas atuais e futuras da UFRGS, que me chamaram pela coordenadora Sílvia Dornelles.

Escrevi três colunas sobre meu aparelho auditivo e as fonoaudiólogas, por isso, me consideraram patrono de sua causa.

Pois quero proclamar à fonoaudiologia como ciência que só uso meu aparelho auditivo para participar do Sala de Redação e do Jornal do Almoço.

Mas, para tudo o mais na vida, eu retiro o aparelho auditivo do ouvido esquerdo: é que descobri espetacularmente que 98% das coisas que escuto durante todo o dia são absolutamente inúteis e desnecessárias.

Incrível!

Nós, gremistas, temos as nossas datas-símbolo, escolhidas estrategicamente por nós mesmos.

Dedicamos devoção ao 10 de dezembro de 1983, em Tóquio, ao dia em que nos consagramos na Batalha dos Aflitos, o mais lendário combate entre uma força futebolística e outra, quando só nos diferenciamos da célebre Guerra das Termópilas, entre gregos e persas, porque os gregos perderam a batalha e nós, gremistas, fomos na Batalha dos Aflitos vencedores do prélio e campeões da segunda divisão, mais esta data de anteontem, 8 de dezembro, quando merecidamente o Grêmio se classificou para a Libertadores em uma guerra entre o Independiente e o Goiás.

Anteontem, foi a glória. Nunca a paixão gremista esteve tão efervescente como neste jogo de Avellaneda.

Nunca fomos tão felizes e realizados, nunca veneramos tanto um treinador como Renato Portaluppi e agradecemos ao presidente Duda Kroeff por tê-lo contratado.

Foi uma enorme alegria. E saibam os gremistas que as alegrias de 2010 ainda não terminaram, vem mais aí.

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