sábado, 18 de dezembro de 2010



18 de dezembro de 2010 | N° 16553
PAULO SANT’ANA


A guerra contra o crack

Estes nossos hospitais se entregam a gigantescas tarefas sociais das quais nós às vezes nem ficamos sabendo.

Agora mesmo, chegou ao meu conhecimento que o Grupo Hospitalar Conceição está realizando um esforço de gestão para garantir a criação de novos serviços destinados a atender as crianças gaúchas e os jovens vítimas do crack, que destrói muitas famílias.

Foram contratados 59 novos profissionais de saúde, como médicos e psiquiatras, especificamente para atendimento dos viciados em crack.

Em setembro de 2010, foi criado no GHC o consultório de rua, que possui equipe especializada em dependência química e já abordou mais de 250 pessoas nas ruas da zona norte da Capital. A maioria dos casos atendidos é de viciados em crack.

A realidade do atendimento é chocante: depara-se com pais fornecendo drogas a crianças pequenas. Há grávidas em final de gestação, sem pré-natal, totalmente viciadas em crack.

Há mulheres se prostituindo para ganhar dinheiro para usar a droga. E há homens e mulheres que decidem viver no meio do lixo, com tuberculose e vírus HIV, que deixam de comer para comprar o crack.

Mesmo assim, as equipes do GHC não desistem. O consultório de rua circula por bairros e vilas, representado por um veículo colorido, levando às pessoas atividades lúdicas e esportivas, prestando cuidados básicos de saúde e orientando dependentes químicos.

Já foram feitos muitos encaminhamentos de usuários de drogas, incluindo gestantes, para tratamento no Hospital Conceição, segundo me esclarece Neio Lúcio Fraga Pereira, diretor superintendente do Grupo Hospitalar Conceição.

Meninos abordados também foram integrados ao Programa Jovem Aprendiz do GHC, que ensina uma profissão a estudantes.

Outra vitória do GHC foi a criação, em outubro, de um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas, que funciona durante as 24 horas, inclusive nos fins de semana. No local, ocorrem 400 atendimentos por mês. Cerca de 80% dos pacientes são usuários de crack, mas entre eles há também usuários de outras drogas. Nesse centro, foram instalados os primeiros leitos de observação, o que deve ser ampliado nos próximos meses.

Ali também são desenvolvidas oficinas de artesanato, arte e culinária. Ocupar esses usuários de drogas é essencial para sua recuperação e para vencer sua dependência química.

Na área de infância e adolescência, foi criado o CAPS, que atende crianças dependentes de drogas e adolescentes com transtornos mentais graves. Desde outubro, o serviço já recebeu 45 meninos e meninas, sendo que 45% deles representam dependentes de crack com idade entre 12 e 15 anos.

Houve também mais de cem atendimentos individuais. Os pacientes participam de oficinas como a de Contos para Adolescentes, Autocuidado e Esportes. A partir de janeiro, haverá ainda Culinária e Contos para Crianças.

Quando um grupo hospitalar público se atira assim a uma atividade médico-social com essa envergadura, nem tudo está perdido no serviço público e hospitalar.

É uma enorme façanha.

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