quinta-feira, 9 de dezembro de 2010



09 de dezembro de 2010 | N° 16544
LETICIA WIERZCHOWSKI


O Tabajara e o meu caçula

Tabajara Ruas é uma figura emblemática na minha vida. Explico-me: cresci numa família de classe média que gostava, talvez, de música. Literatura não era um assunto popular na nossa casa. Lembro que meus pais tinham lá uns poucos livros, os quais eu li antes da hora apropriada, escondida no quartinho de despejos.

Tudo era bastante comum na nossa família, mas guardávamos por empréstimo a história do Tabajara, que era irmão do cunhado do meu pai. Escritor, Tabajara Ruas tinha fugido do Brasil na época da ditadura. Vivera no Exterior por cerca de 10 anos, formando-se em Arquitetura na Europa, onde também escrevera seu primeiro romance, A Região Submersa.

Assim o Tabajara Ruas era, para mim, a manifestação concreta e tangível de que nem todos éramos (ou seríamos) iguais, e que nossos destinos podiam guardar caminhos surpreendentes.

Anos mais tarde, comecei a escrever pequenas histórias – consequência do muito que eu lia e dos mirabolantes enredos que criava na minha cabeça. Quando terminei meu primeiro romance, quando pude enfim assentar uma história no papel, a família elegeu o coitado do Tabajara para opinar. A sina do escritor é também embrenhar-se pelas aventuras literárias alheias – e lá se foi o seu Taba para casa com meus originais embaixo do braço, conformado com o destino do seu final de semana. Pois o Taba gostou do livro e me indicou para Luciana Villas-Boas, da editora Record, numa época em que ele próprio era o único gaúcho do catálogo.

Depois disso, muita coisa se passou. A literatura do Tabajara Ruas marcou a minha vida em vários aspectos – Os Varões Assinalados, um dos grandes romances escritos sobre o Rio Grande, foi a mola propulsora de A Casa das Sete Mulheres. Os livros do Taba ocupam lugar de honra na nossa estante. A família do Taba tem as portas da nossa casa sempre abertas. Ele é o cara.

E, além de tudo, é simpático como poucos... Prova disso foi que, numa noite dessas, estávamos num restaurante comemorando o aniversário do meu marido, quando o Taba chegou, assim por acaso.

E o Tobias, nosso filho caçula, que via o Tabajara pela primeiríssima vez na sua vida, tratou logo de mudar de mesa. E de colo. Saiu dos meus braços e correu para o “titio Baba” todo contente, como se fossem amigos desde sempre.

Passou o resto do jantar pulando ao redor do Tabajara e tecendo diversos comentários para agradá-lo. E nem deu mais bola pra nós, o Tobias, mas ficou orbitando em torno do Taba até que finalmente fomos para casa. Menino de bom gosto esse... Me ponho a imaginar o que fará meu caçula quando, ainda por cima, conhecer a literatura do Tabajara Ruas.

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