segunda-feira, 27 de dezembro de 2010



27 de dezembro de 2010 | N° 16562
KLEDIR RAMIL


O ano que passou

Corajosamente, como costumo fazer a cada virada de ano, aqui estou para conferir as previsões que apresentei para 2010. Digo “corajosamente” porque muita gente faz estardalhaço com presságios espetaculares, mas quando chega o fim do ano, disfarça e esquece de verificar se deram certo.

É gente que quer aparecer, imaginando escândalos de celebridades e outras bobagens. Minha preocupação é antever tragédias reais. Sou um sujeito racional, trabalho com um sistema científico que utiliza um instrumento de leitura chamado Chutômetro. É um aparelho com tecnologia chinesa, reconhecido pela ABNT e portanto com selo de qualidade. Como vocês sabem, Edneide, minha secretária, é alcoólatra.

Tem dificuldade de organizar seus próprios pensamentos, imaginem meu escritório. Pois bem, ano passado Edneide foi botar pra carregar a bateria do Chutômetro e queimou o aparelho. Liguei para Shangai pedindo um novo, mas ainda não chegou.

Tudo isso só pra explicar que, como eu estava sem meu fiel instrumento de leitura, me senti limitado em minha capacidade de perceber o futuro com clareza e decidi realizar o tradicional ritual inca da Chicha Loca, para abrir as janelas da alma ao desconhecido.

O ritual inclui uma dança pré-colombiana e a ingestão de uma sopa de quinua temperada com aquela raiz esquisita da selva peruana. Depois de três dias dançando e cantando na volta de uma fogueira, tive uma visão.

E foi essa visão apocalíptica de uma batalha entre forças extraordinárias querendo dominar o mundo que eu descrevi na minha previsão. Por força da beberagem e da falta de equipamento adequado, terminei por enxergar apenas uma tragédia para o ano de 2010, mas de tal magnitude que ofuscou todas as outras.

Como ficou comprovado. Vamos ao que interessa. A seguir, repito minha previsão – publicada na edição de Zero Hora de 31 de novembro de 2009 – que dispensa maiores explicações:

“O exército vermelho vencerá todas as batalhas e seguirá triunfante em seu objetivo de conquistar o mundo. Mas o Todo-Poderoso surgirá em Abu Dhabi para impedir tal façanha. Tempos estranhos virão e seremos obrigados a agüentar até um sujeito descontrolado, dançando sentado.”

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