quarta-feira, 22 de dezembro de 2010



22 de dezembro de 2010 | N° 16557AlertaVoltar para a edição de hoje
MARTHA MEDEIROS

Crer ou não crer

A campanha publicitária criada pela Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea) foi motivo de algum bafafá semana passada. Cartazes defendendo o ateísmo foram impedidos de circular em ônibus da Capital. Fiquei surpresa não com a polêmica, pois sei que a pura menção da palavra Deus é suficiente para alterar os ânimos, mas surpresa pelo inusitado do “produto”.

Uns acreditam em Deus, outros não acreditam, e ambas as turmas são legítimas. A Atea diz que o propósito da campanha é acabar com o preconceito contra os ateus. Que preconceito? Os ateus são atacados violentamente na rua? Não possuem direitos civis?

São impedidos de entrar em algum ambiente público? Essa campanha me parece um tiro no pé: com a intenção de “acabar com o preconceito”, poderá incrementar o que nem existe. Que me conste, vivemos num país com liberdade de credos – inclusive o de não ter credo nenhum.

Fui batizada, fiz primeira comunhão e estudei em colégio de freiras, mas, à medida que fui crescendo, passei a discordar do posicionamento da Igreja e hoje assumo uma posição crítica. Acho que a religião católica é alienante e o Vaticano não contribui para a valorização dos direitos humanos, ao contrário, mantém um discurso que se opõe às liberdades individuais.

Ao insistir em aceitar o sexo apenas para a procriação, estimula a homofobia e lava as mãos quanto ao futuro da humanidade. Menos mal que a maioria dos católicos também não dá ouvidos a esse contrassenso, ou viveríamos num planeta ainda mais superpovoado e miserável.

Ninguém pode provar que Deus existe. Ninguém pode provar que Deus não existe. A única coisa que comprovadamente existe é a fé, que está (ou não está) dentro de cada um. Isso torna a questão profundamente pessoal, sem certo ou errado.

Religião serve para confortar contra a ideia da morte. Alguns precisam acreditar na transcendência divina, outros canalizam sua espiritualidade para a natureza, e há os materialistas, que acreditam apenas no aqui e agora. Cada um na sua, sem fazer mal a ninguém.

Entendo que a Atea tenha tomado a iniciativa de promover o ateísmo, já que a torcida de Deus é bem mais organizada e numérica. Se a intenção era incrementar o debate, eis aqui minha contribuição, sempre lembrando que nunca seremos coesos quando o assunto for religião, como jamais seremos quando o assunto for futebol, política ou sexualidade.

Estamos na semana do Natal, a mais importante data do catolicismo. Celebra-se o nascimento de Cristo. Não me consta que ateus a ignorem. Podem não assistir à Missa do Galo, mas reúnem a família e festejam a seu modo.

Um bom momento para lembrar que a diversidade que existe não é tão colossal a ponto de nos tornar inimigos, e que sempre teremos o direito de nos posicionar, desde que jamais percamos o respeito pela escolha do outro.

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