sábado, 18 de dezembro de 2010



19 de dezembro de 2010 | N° 16554
MOACYR SCLIAR


O bairro como cadinho de culturas

O museu da UFRGS inaugurou uma exposição sobre o Bom Fim

Esta semana, o museu da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (que por simbólica coincidência funciona na Avenida Osvaldo Aranha 277) inaugurou uma exposição sobre o bairro do Bom Fim com o sugestivo título de Um Bairro, Muitas Histórias. Para quem, como eu, nasceu e se criou no Bom Fim, para quem passou a infância e a juventude ouvindo, e vivendo essas histórias, este é um evento tão nostálgico quanto emocionante.

Em termos de identidade, o bairro é um lugar importante, como o é o nosso país, o nosso Estado, a nossa cidade. O bairro é um microcosmo, um lugar que muitas vezes tem uma cultura própria, um estilo de vida: o caso do Village em Nova York, da Rive Gauche em Paris, de Bloomsbury em Londres (lembram Virginia Woolf?), de Hollywood em Los Angeles, do Caminito em Buenos Aires, do Bexiga em São Paulo, de Copacabana e Ipanema no Rio.

Bairros contam histórias, sim. Histórias que mudam ao longo do tempo. No caso do Bom Fim tratava-se, no início, da história de imigrantes judeus, gente que tinha deixado para trás uma Europa convulsionada pelas guerras, pelos conflitos étnicos, pelas perseguições, pelos massacres e tinha vindo para o Brasil em busca de uma nova existência, e ali abriram suas lojinhas, suas oficinas, suas instituições. Mas o Bom

Fim era um bairro de muitas culturas; a Universidade trazia para ali estudantes que se reuniam nos bares da Osvaldo Aranha, locais de debate intelectual e político e de contestação. Já o Ocidente, que neste dezembro completou 30 anos, trouxe para o Bom Fim, grupos musicais e teatrais, a moda hippie, e mais recentemente o Sarau Elétrico, com Katia Suman, Luís Augusto Fischer, Claudio Moreno, Claudia Tajes.

O Bom Fim: cadinho de culturas, sonhos, de esperanças, de ideias, de talentos. Justa a homenagem que faz ao bairro a nossa universidade.

O grande Sérgio da Costa Franco, historiador, intelectual e colunista de ZH, escreve, a propósito de meu texto sobre filas: “Vi nascerem [as filas], no tempo da Segunda Guerra. Faltavam leite, carne, pão e açúcar, e uma necessidade básica de ordem entre os compradores criou as filas, então chamadas “bichas”, sem qualquer conotação homofóbica...

Antes da saudável cultura da fila, imperava o caos e a lei do ‘mais homem’. Compra de ingressos no campo de futebol ou no cinema implicava um feroz corpo a corpo.” Um voto de louvor para o projeto “Pai? Presente!”, inciativa de Luiz Fernando Oderich, presidente da ONG Brasil Sem Grades.

Este projeto, que, para orgulho do RS, funciona em São Sebastião do Caí, tem por objetivo só identificar e fazer constar da certidão de nascimento das crianças o nome do pai, e também fazê-lo conviver e participar do sustento e da educação da criança, bem como de seu sustento. Iniciativa admirável; admirável é também o trabalho que a escritora Perpétua Flores, gaúcha honorária, vem fazendo em Buenos Aires para divulgar a literatura brasileira entre os leitores de fala espanhola. Falando nisso, o Mauro Spinato me cumprimenta pelo Dia do Cronista, que ocorreu em 9 de dezembro. Obrigado, Mauro.

Eu nem sabia que cronistas tinham o seu dia, o que é uma grata surpresa.Agradeço as mensages de Vicente Guimarães Junior (filho do famoso escritor que publicava sob pseudônimo de Vovô Felício), do Mazzarino (cronista de A Hora, de Lajeado), Vilson Cadore, Luiz Baú, Rogerio R. Kirschbaum, dr. Fernando Luiz Brauner, Cristiane Montanha, Vilmar Machado, Rafael Monteiro, Luiz Andreola, Dr.Antonio Augusto Mayer dos Santos (cuja filha, Júlia, é dedicada leitora), o cultíssimo Mauro Duarte, José Paulo Ramos de Oliveira, Cassionei Niches Petry. Nome que condiciona destino: no recente problema de energia ocorrido no Rio de Janeiro, o técnico encarregado de dar explicações chamava-se Hermes Chip. Pelo jeito ele era o chip que faltava.

Comentando a coluna sobre filas diz a Josemary A. Piccinini: “Em outubro estive no Canadá, fazendo um intercâmbio e eis que em uma das aulas quando me apresentei, o professor fez o seguinte comentário: “Brasileira... É do povo que adora filas”.

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