sábado, 11 de dezembro de 2010



11 de dezembro de 2010 | N° 16546
NILSON SOUZA


Nunca antes

Nunca antes estivemos tão expostos ao olhar alheio. O admirável mundo novo da tecnologia digital colocou no nosso cangote o Grande Irmão que tudo vê e tudo controla. Sorria, você está sendo filmado, vigiado, cadastrado, espionado, investigado, achacado. De repente, seu telefone toca e, do outro lado, tem alguém que sabe tudo sobre a sua vida, onde você mora, quantos filhos tem, o que consome, quais são os seus hábitos de lazer.

E aquela voz simpática tem alguma coisa para lhe vender ou algum negócio para lhe propor – uma promoção imperdível que vai, no mínimo, deixá-lo ainda mais vulnerável aos interesses de terceiros, quartos e quintos, já que os cadastros de clientes são negociados no mercado como pipoca na entrada do cinema.

Nunca antes fomos tantos na superfície do planeta, nem tivemos tantos carros ou convivemos desta maneira com engarrafamentos de trânsito, filas em cinemas, bancos, restaurantes e aeroportos. O mundo está lotado, as estradas estão repletas de veículos, os shoppings e supermercados estão lotados, os ingressos para qualquer espetáculo estão sempre esgotados.

Nunca antes nos comunicamos tanto, nem tivemos tantos amigos virtuais, que só conhecemos por seus perfis nas redes sociais ou por suas ideias tuitadas em meia dúzia de palavras.

Todos conquistamos o poder de tocar o mundo com a ponta dos dedos, o indicador e o polegar abrindo infinitas janelas para que possamos, também nós, espionar a vida alheia ou compartilhar a nossa própria com quem estiver online e disponível. Acabou a privacidade. No mundo interconectado, ninguém mais tem direito ao anonimato.

Nunca antes fomos tão cosmopolitas, multinacionais, cidadãos de todos os países e de nenhum, superficialmente cultos, bilíngues ófi corse, alguns até quinquilíngues, palavra que sempre sonhei usar quando tinha três tremas, mas que infelizmente só tive a oportunidade de fazer agora, depois que os olhinhos das letras foram extraídos pela reforma ortográfica. Como agora falamos com os dedos, o idioma já não importa tanto.

Nunca antes na história da humanidade estivemos tão desafiados por uma mudança de paradigma. Vivemos uma era de transformações vertiginosas, mal dá tempo de entender uma novidade tecnológica e já surgem outras mil.

Tudo muda da noite para o dia. O que era verdade ontem pode não ser mais amanhã. Nossos sentidos parecem insuficientes para captar tanta informação. Nossos cérebros parecem despreparados para entender tantas revoluções.

Nunca antes vivemos tanto, com tantos recursos e, ao mesmo tempo, com tanta urgência.

Um sábado gostoso, bom fim de semana para você.

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