quinta-feira, 16 de dezembro de 2010



16 de dezembro de 2010 | N° 16551
CLAUDIA TAJES


O amigo gay

Agora que estamos todos recuperados do susto que o Antônio Augusto Fagundes nos pregou, é hora de tratar do tema sugerido por ele a esta coluna: por que as mulheres sempre têm um amigo gay?

Que fique claro para os desavisados: ter um amigo gay não equivale a ter uma amiga. Ainda que use espartilho de renda nos momentos de lazer, o amigo gay manterá seu estimulante olhar masculino sobre as coisas. Pode ser um olhar sensível e fresco, nos mais abrangentes sentidos, mas será sempre masculino.

O amigo gay se mostrará tão devotado quanto o amigo hetero, só que não vai partir para cima da amiga no final daquela festa em que tudo deu errado para ele. Chamado a opinar sobre determinada roupa, jamais responderá burocraticamente, como um marido de muitos anos, ou cego pela paixão, como um namorado de poucos dias. E já que o gay costuma saber mais de moda do que o não gay, seu veredicto será bastante confiável.

O amigo gay parecerá bem-humorado mesmo em seus momentos de destilar veneno, não que isso signifique superficialidade. É de leveza que se fala aqui. Ele não reclamará ao entrar em uma loja de sapatos e estará à vontade também nos açougues e ferragens da vida. É o efeito A Bela e a Fera: exímio na maquiagem, no corte e na costura, o amigo gay não fugirá da sua responsabilidade atávica de matar uma barata.

Não raro, ele encontrará um ótimo companheiro. E não estranhe se os dois adotarem um ou mais filhos, agora que os homossexuais conquistaram esse direito. Generosidade, eis algo que os remetentes dos e-mails homofóbicos da Faculdade de Medicina poderiam aprender com os gays.

Contribuições das leitoras. A Maria Regina diz que o amigo gay é mais delicado do que o amigo macho, além de pular a parte dos convites para motéis & afins. A Amélia manda uma lista de elogios: ele não concorre com a gente, é sincero sem ser estúpido e não espalha os segredos das amigas.

Um dos meus melhores amigos gays me acompanhou em uma viagem de trabalho. Ficamos no mesmo quarto de hotel, com a aprovação do marido dele, fazendo o que a maioria dos casais heterossexuais faz antes de dormir: assistindo TV até cansar. Que mulher emprestaria o próprio namorado com tamanha tranquilidade para uma amiga?

Se alguém não entendeu por que, com tantas vantagens, as moças não saem logo por aí pegando de jeito os seus amigos gays, a resposta cabe em um provérbio. Homem de amigo meu, para mim, é mulher. E, nesses casos, para o bem do respeito e da amizade, convém seguir a linha do Nico Fagundes. Tradicionalista, uma barbaridade.

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