quinta-feira, 23 de dezembro de 2010


Editorial Folha

37 ministérios

Primeiro escalão escolhido por Dilma Rousseff preserva traços de Lula, atende ao fisiologismo e se diferencia por presenças femininas

A presidente eleita, Dilma Rousseff, concluiu ontem a composição de seu ministério. Não nasceu um governo que se destaque pelo brilho individual de seus membros. De quem se espera gestão mais técnica e eficaz do que a atual, o primeiro reparo a fazer é à estrutura inchada que a nova mandatária herda de Luiz Inácio Lula da Silva e mantém intacta.

Ninguém imagina que um governo com 37 ministérios seja orientado por critérios de eficiência, tampouco que a totalidade dessas pastas corresponda aos interesses da população. Dilma perdeu a chance de dar um sinal contrário aos tradicionais vícios patrimonialistas e fisiológicos que sobreviveram ao governo petista.

Para que se tenha uma ideia, o número de servidores civis ativos do Executivo passou de 484.741 (2002) para 563.093 (julho deste ano). Só a estrutura da Presidência da República abriga hoje mais de um terço dos ministros (13). Eram 6 no governo de Fernando Henrique Cardoso, que tinha, no seu final, 26 ministérios.

A definição dos nomes aponta para um início de governo com nítida influência de Lula, o que é evidente na opção por Gilberto Carvalho, remanejado para a Secretaria-geral da Presidência, e na designação de Antônio Palocci para a Casa Civil. Além deles, a permanência de Guido Mantega na Fazenda, de Fernando Haddad na Educação e de Nelson Jobim na Defesa também correspondeu à vontade de Lula.

A presidente eleita pode não ter se dobrado a todas as pressões na escolha dos ministros, mas isso não significa que tenha sido menos suscetível ao que há de pior na política brasileira -como atesta o caso patético de Pedro Novais, indicado para o Ministério do Turismo, já envolvido em escândalo.

O PT ficou com 17 dos 37 cargos. Comandará o núcleo político do governo, a área econômica, as principais pastas sociais e a Justiça, que tem o controle hierárquico sobre a PF, além da Ciência e Tecnologia, entre outros.

Dilma tirou as Comunicações e a Saúde das mãos do PMDB, que recebeu em troca o Turismo e a Previdência, com muito menor prestígio, num total de seis pastas. O PSB, que cresceu e elegeu seis governadores no Nordeste, esperava mais, mas foi agraciado com com apenas dois ministérios.

Ao final, como era previsível, os aliados manifestaram uma insatisfação difusa com o resultado. Mesmo o PT, apesar de favorecido, mostrou-se contrariado em razão de suas disputas regionais e de tendências internas. São descontentamentos que fazem parte da dinâmica política e tendem a se acomodar -mesmo porque este parece ser um ministério com caráter provisório, que sofrerá modificações no futuro.

Na condição de primeira mulher presidente, Dilma reforçou a presença feminina na sua equipe, nomeando nove ministras. Nas formações iniciais dos dois mandatos de Lula eram só quatro. Talvez seja essa a marca realmente pessoal do novo ministério -o que é pouco.

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