sexta-feira, 24 de dezembro de 2010



24/12/2010 e 25/12/2010 | N° 16559
PAULO SANT’ANA | INTERINO - LUIZ ANTÔNIO ARAUJO


No topo do mundo

Em meio à temporada de listas que costuma acompanhar os sinos de Natal, a revista Foreign Policy acaba de badalar sua seleção anual dos Top 100. São cem pensadores globais que contribuíram, no entendimento da publicação, para moldar o ano que se encerra. Espiar a lista e compará-la à do ano passado pode dar pistas curiosas sobre a posição das peças do xadrez mundial.

Para o Brasil, há uma boa notícia: saltamos de um único indicado em 2009, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, para dois, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e a candidata verde à Presidência, Marina Silva. A posição também melhorou. Enquanto FH era o 11º colocado, Amorim ocupa o sexto lugar (logo depois de Ben Bernanke, presidente do banco central americano, que encabeçava a lista de 2009), e Marina, o 32º.

Mais interessantes são as explicações dadas pela revista para cada escolha. No ano passado, FH foi destacado por uma razão eminentemente regional: “Chamar a guerra às drogas daquilo que ela realmente é – um desastre”. O ex-presidente tem proposto a descriminalização da maconha como alternativa à política linha-dura contra o tráfico. A Amorim, foi atribuído um feito em escala planetária: “Transformar o Brasil num ator global”.

O texto sustenta que, apesar de lances polêmicos como a aproximação com o Irã terem provocado “ranger de dentes nas capitais ocidentais”, também contribuíram para “colocar o Brasil no mapa”. Marina, que divide o 32º lugar com outras três líderes verdes europeias, é celebrada por ter feito de 2010 “o ano dos Verdes”. Seu feito teria sido levar a eleição presidencial para o segundo turno com “o mais alto percentual de votos já obtido pelo Partido Verde no país”.

Curiosamente, o homem que catapultou Amorim e Marina ao nomeá-los ministros é ignorado pelo segundo ano consecutivo. O máximo que a Foreign Policy se permite é chamar ironicamente Luiz Inácio Lula da Silva de “longevo presidente a caminho da aposentadoria”.

A representação da América Latina também cresceu. No ano passado, foram três os escolhidos: FH, o escritor peruano Mario Vargas Llosa e o historiador mexicano Enrique Krauze. Desta vez, além de Amorim, Marina e de uma nova indicação de Vargas Llosa, turbinado com o Nobel de Literatura, entrou no ranking a ex-presidente do Chile Michele Bachelet.

No topo da tabela, houve um rearranjo discreto, mas significativo. Em 2009, dos 12 ocupantes das 10 primeiras posições, havia oito americanos, um iraniano, um indiano, um chinês e um egípcio.

Este ano, no mesmo arco figuram sete americanos, um francês, um chinês, um brasileiro, um turco e uma alemã. Um dos americanos, Robert Zoellick, que foi chamado por Lula de “sub do sub” quando era secretário de Comércio Exterior dos EUA, entra na lista como presidente do Banco Mundial, em dobradinha com o francês Dominique Strauss-Kahn, diretor do FMI. A mesma dupla estava em 33º lugar em 2009. A melhor ideia de 2010, segundo Zoellick: “A crise vai acabar”. A pior: “A crise acabou”.

Alguns reeleitos tiveram, na visão dos editores, uma importante mudança de papel. Barack Obama estava em segundo lugar no ano passado por “reimaginar o papel dos Estados Unidos no mundo”. Este ano, chegou em terceiro por “manter o curso apesar das críticas”. O presidente do banco central chinês, Chu Xiaochuan, indicado em 2009 (nono lugar) por “lembrar ao mundo que o dólar não está garantido”, ficou em quarto este ano por “segurar o destino da economia mundial em suas mãos”.

Os critérios da Foreign Policy não são imunes a críticas. O listão se dá o luxo de ignorar, por exemplo, representantes da Rússia e de outras nações emergentes. Longe de pretender fazer um levantamento neutro ou imparcial, os editores da revista almejam dar visibilidade a quem promove ideias que consideram válidas. Nesse caso, como em outros, vale a velha máxima: “Quem quiser que conte outra”.

A lista dos Top 100 está disponível em http://www.foreignpolicy.com/2010globalthinkers

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