quarta-feira, 15 de dezembro de 2010



5 de dezembro de 2010 | N° 16550
DAVID COIMBRA


Minhas notas

Minha coluna hoje deixa o seu formato tradicional. Assisti ao jogo do Inter contra o Mazembe com a missão de dar uma nota a cada um dos jogadores em campo.

O melhor foi Rafael Sobis. Os piores, Nei e Alecsandro. Vejam ao lado quem foi bem e que sucumbiu no Golfo Pérsico:

Renan: Era de quem os colorados esperavam o pior, antes do avião decolar para Abu Dhabi. Mas o pior não veio dele. Renan teve boa atuação e praticou pelo menos três defesas bastante difíceis (numa delas, o jogador do Mazembe entrou na área pela esquerda e chutou de bico, praticamente à queima-roupa; noutra, a bola veio arrevesgueada e ele precisou mudar a posição do corpo).

Nos gols do Mazembe, Renan tinha pouco a fazer. No primeiro, Kabangu reuniu todos os méritos: procurou o ângulo e encontrou. No segundo, a bola rasteira, no canto, é das mais complicadas para o goleiro. Como foi. A conta do fracasso do Inter não pode ser paga por Renan. Nota 6

Nei: O Mazembe atacou sempre pelo seu lado, e quase sempre foi bem-sucedido. O time africano tem um ponta-esquerda de nome pedregoso, Kaluyituka, que passou a tarde enfiando a bola goela adentro de Nei. Por ali o Inter foi desmembrado como um frango assado.

Nei poderia se redimir no apoio. De fato, muitas vezes ele voou à linha de fundo e cruzou. Só que poucas dessas vezes cruzou certo. Um lateral que erra o cruzamento é a delícia das defesas adversárias. Foi o que foi Nei: a delícia da defesa do Mazembe, a tragédia da defesa do Inter. Nota 3

Bolívar: Teve de sair constantemente da área a fim de cobrir os avanços dos laterais. É uma tarefa dolorosa para um zagueiro, sobretudo quando os atacantes adversários são velozes – caso dos congoleses, aqueles negros altos, fortes, espadaúdos e, o pior, pernaltas. Não chegou a comprometer, mas, no momento em que o Inter levou o gol e necessitava se reorganizar, sua liderança não apareceu. Nota 5

Índio: Virou-se, com medo da bola, no primeiro gol do Mazembe. Trata-se de pecado mortal para um zagueiro. Zagueiro tem de tirar a bola de nariz, de olho, de joelho, tem de tirá-la com a alma, com os dentes, com a vesícula, e nunca, jamais!, esquivar-se dela. Foi sua maior falha. Precisava mais? Nota 4

Kleber: Em tese, o Inter teria de vencer o jogo pelo seu lado. Porque Kleber é o melhor “colocador de bola” do time e porque o setor direito da defesa do Mazembe é tísico. Tudo isso em tese. Na prática, Kleber não entrou em campo. No primeiro tempo, não acertou um cruzamento. No segundo deu uma melhoradinha. Só uma melhoradinha. Nota 5

Wilson Matias: O fato de ter sido anunciado por Fernando Carvalho como um jogador “espetacular” o prejudicou antes mesmo de sua chegada ao Beira-Rio. Matias nunca foi espetacular em seus dias de Inter. Nem ontem. Mas também não foi horrível. Foi normal. E normal, para quem quer ser campeão do mundo, é menos do que bom. Nota 5

Guiñazu: Deu uma única roubada de bola ao estilo do velho guerreiro Guiñazu, na lateral-direita defensiva. De resto, parecia um volante comum. No fim, quando o Mazembe já vencia e o tempo passava sem que o Inter encontrasse soluções, começou a errar passes que um argentino ou um brasileiro não errariam. Um africano, sim. Mas os africanos estavam do outro lado. Ganhando o jogo. Nota 5

Tinga: No primeiro tempo, foi o melhor em campo, disparado. Jogou como meia, um meia bem adiantado, quase ponta-de-lança, flutuando na intermediária de ataque, organizando o time, distribuindo passes verticais, roubando a bola e até perdendo gols. Houve um lance em que perdeu um gol DE CABEÇA, ele que é desse tamanhinho. No segundo tempo, Roth, inexplicavelmente, sacou-o do time. Foi uma das causas da derrocada. Nota 8

D'Alessandro: Não foi aquilo que o Professor Ruy consagrou como “centro técnico do time”, como devia ser. Não teve agressividade, não teve criatividade, não teve profundidade. Não chutou a gol, não driblou, não lançou. Foi um não-craque. No segundo tempo, levantou a bola na área, mas sem maiores consequências. Uma das falências do Inter. Nota 5

Rafael Sobis: Ele e Tinga eram os melhores do Inter. E quais foram os jogadores substituídos por Celso Roth, depois que o Mazembe fez o gol? Quem???

Sobis e Tinga. Im-pos-sí-vel de compreender. Sobis movimentava-se, vencia os zagueiros, chutava. Só não marcou porque, debaixo do travessão, havia um bruxo, o goleiro Kidiaba, que fecha o gol com seus companheiros antes do jogo, ajoelhando-se na linha fatal, e comemora vitórias saltando com os músculos glúteos no gramado. Sobis não devia ter saído. Nota 8

Alecsandro: Muitos torcedores achavam que ele seria omisso, muitos cronistas esportivos achavam que ele seria omisso, muitos observadores de outros times achavam que ele seria omisso. Alecsandro não os decepcionou. Nota 3

Giuliano: Durante a Libertadores, ele entrava em campo para marcar os gols salvadores. Era o talismã do Inter. Desta vez, entrou em campo e quase marcou o gol salvador. Kidiaba não deixou. Mas Giuliano, de certa forma, fez sua parte: ele estava lá para tentar. Outros não tentaram. Nota 7

Leandro Damião: Entrou no lugar de Alecsandro para dar mais agressividade ao time. Não conseguiu. Como Alecsandro, perdeu-se no meio dos zagueiros africanos. Era, no dizer de Graciliano Ramos, “um pé de trigo no meio do cafezal”. Nota 4

Oscar: Entrou no segundo tempo, deu um chute que se chocou contra a zaga e não fez muito mais do que isso. Nota 4

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