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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
06 de dezembro de 2010 | N° 16541
LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL
Na mochila
A mochila é pequena, mas jeitosa. Sabendo usar, pode conter todos os livros de que precisamos. Com o decorrer do tempo, ainda somos beneficiados pela essencialidade: se aos 40 precisaríamos de uma grande mala, nos 50 já reduzimos a uma valise, nos 60 uma singela mochila nos basta.
Mas quais são esses livros?
Em primeiro lugar e sempre, a Bíblia. Ela contém quase tudo: belas narrativas, moralidades, conhecimento histórico, lições de como escrever de modo econômico e, ainda, Deus. Da Bíblia há edições em papel fininho, e podem ser tão pequenas que cabem num dos bolsos externos.
Depois, a Odisseia, que conta as peripécias de Ulisses, que é bem mais saborosa que a Ilíada e suas bravatas. As Confissões, de Santo Agostinho, um existencialista avant la lettre, sempre nos surpreende.
Dando um grande salto, não esquecer de Os Ensaios, de Montaigne, e os Pensamentos, de Pascal. Mande encaderná-los num único volume, pois são livros que dialogam entre si e apresentam soluções para quase todas as questões que nos afligem.
Incluiria, então, o Hamlet e o Don Quixote. O príncipe da Dinamarca tem muito a ensinar ao Cavaleiro da Triste Figura, pois é sua versão humanizada e profunda.
Do século 17, salvemos O Burguês Fidalgo, de Molière, os poemas de Gregório de Matos e o Sermão da Sexagésima. Do século 18, peguemos o Werther, de Goethe.
Tentemos resistir ao século 19 e suas banalidades, mas enfim, Ilusões Perdidas não pode faltar, nem Mme. Bovary, nem as Memórias Póstumas de Brás Cubas.
Dos mais recentes, a peneira deve ser mais grossa, senão pouco fica. A Montanha Mágica é grande, mas é uma summa da modernidade. Ponha, ainda, o Dublinenses, de Joyce, e Primeiras Estórias, de Guimarães Rosa.
Como estes livros, podemos seguir adiante em nosso caminho. As costas agradecerão a parcimônia. Parcimônia? Não: sabedoria.
E quanto a nossa biblioteca doméstica, usemos algo mais espaçoso, como um baú. Mas não mais do que isso. Aproveitemos os vazios das prateleiras e coloquemos ali, entre outras, uma reprodução de A Grande Onda, de Katsushika Hokusai.
Será um prazer para os olhos e um descanso para a mente.
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