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terça-feira, 21 de dezembro de 2010
21 de dezembro de 2010 | N° 16556AlertaVoltar para a edição de hoje
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA
O Caso Kliemann
Sou obrigado a declarar-me meio parceiro do último livro de Celito De Grandi. Acompanhei, aos 17, 18 anos, toda a formidável teia de tragédias que abalou não apenas um homem e sua família, mas toda a sociedade do Rio Grande do Sul.
Nos países do Primeiro Mundo, lá onde fica a Cultura, são naturais as investigações, pesquisas e depoimentos sobre os grandes fatos que atentaram contra a convivência civilizada. Mais do que isso, são correntes as análises a respeito das pessoas que protagonizaram esses acontecimentos. Agora, um autor gaúcho captou ambas as vertentes, para compor uma clara síntese dos dois crimes e sua circunstância.
E o mais relevante: o fez com extraordinária honestidade, com serena precisão e justo equilíbrio, com aquela isenção que é privilégio dos jornalistas que merecem o nome.
Não vou contar aqui a trama da obra, mesmo porque ela se explica por si mesma. Mas como foi um notável best-seller, ouvi diversas versões acerca de quem foi o verdadeiro assassino da bela Margit Kliemann. Isso hoje faz parte da História.
Mas é o próprio escritor que, ao descrever os traços da tragédia do palacete da Rua Barão de Santo Ângelo, desenha o retrato sem retoque do assassino, que está longe de ser o deputado Euclydes Kliemann.
Outros tempos, outros usos. Se não se houvesse formado, em setores da imprensa gaúcha, o circo ao redor do bárbaro assassinato, com a invenção de personagens, a multiplicidade de versões, a alquimia de autores, o crime dos Moinhos de Vento não se sustentaria nas manchetes mais do que umas semanas.
Mas como tudo era permitido, a começar pela Repartição Central de Polícia e as mesas das Redações, formou-se uma fabulosa trama, que arrombou a privacidade de dezenas de pessoas.
Foi exemplar, a esse respeito, a atitude superior e límpida das filhas do deputado Kliemann, respondendo com sensatez e tranquilidade as perguntas que lhes foram dirigidas agora. E modelar a forma com que Celito De Grandi abriu a porta dos guardados, para que, com ética e sensibilidade, fizesse entrar ar puro em um território que há muito clamava por claridade.
Precisamos de outros livros assim. E não apenas por reporem o sentido e o norte do real jornalismo investigativo, mas por comprovarem que o gênero é irmão da boa literatura.
Um lindo dia pra você. Saudades da Primavera, mas a partir de hoje é o verão que está ai a pleno vapor. Um gostoso Verão pra você. Hoje e amanhã estarei na terra do Erico Veríssimo
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